Uma perspectiva Bíblica na visão sociológica e missionária de Atos 8.27

Por Odemir Silva


I - Uma perspectiva sociológica

Neste artigo destaco uma visão sociológica do etíope que foi a Jerusalém adorar ao Deus de Israel, quem era esse cidadão? Quais suas origens? O que fazia? Qual sua cultura? Qual seu povo?...
Dentro desta perspectiva faço uma ligação entre a Teologia e Devoção. A conversão de um eunuco etíope mostra que a fé cristã quebra todas as barreiras tanto;

  •  Raciais (o etíope é negro);
  • Nacionais (ele é estrangeiro)
  •  Sociais (trata-se de um escravo);
  • Religiosa (judaísmo não permitia que uma pessoa mutilada pertencesse à comunidade, Dt. 23.2). 

Interessante notar que nesse capítulo 8 há duas categorias de pessoas que, em certo sentido, estão vinculadas ao povo judeu. Se a perspectiva adotada for diferente, o vínculo não existe.
Os samaritanos (Atos 8. 4-24) não eram judeus, mas tinha ancestrais judeus (Jo. 4.9); eles não adoravam em Jerusalém (Jo. 4.20,21). 

Este etíope, vindo da Abissínia, era de descendência israelita, e que fizera a peregrinação a Jerusalém a fim de satisfazer os seus anseios espirituais, porém chegou tarde para ver Cristo em carne, mas não para ouvir o Evangelho.
Atravessou parte do deserto, pois Gaza foi uma das cinco grandes capitais dos filisteus. Entretanto, a frase “pelo caminho deserto” indica a velha cidade, destruída por Alexandre Janeu em 93 a.C., e que ficava a 80 Km de Jerusalém.
Era judeu de nascença ou era um judeu prosélito, já que o primeiro gentio legítimo só foi alcançado pelo evangelho no capítulo 10. Mas, por ser eunuco, ele foi proibido de adorar na congregação do povo de Deus (Dt. 23.1). O fato de ter viajado para tão longe a fim de adorar, mesmo sendo privado disso, atesta sua piedade e prova que era um adorador do Deus de Israel, talvez tendo obtido esse conhecimento da rainha de Sabá (I Rs. 10), segundo a tradição. 


A monarquia da Etiópia afirma que sua genealogia vem do rei Salomão e da rainha de Sabá (I Rs. 10), por meio do filho que eles tiveram Menelik I, há cerca de três mil anos, até o rei Haile Selassie, que foi deposto em 1974. 
Os judeus etíopes, que chamam a si mesmos de “Beta Israel” (casa de Israel), mas que também são conhecidos como Falashas (a palavra aramaica para “exilados”), consideram ser descendentes dos judeus que vieram com Menelik I. Isso é lenda, mas “as crônicas etíopes mostram que o judaísmo era disseminado antes de a dinastia Axum converter-se ao cristianismo durante o século IV”.

No versículo 27, o significado de “mordomo-mor” (gr. Dunastes), isto é;
  •  Poderoso (I Tm. 6.15; Lc. 1.52);
  •  Grande autoridade (At. 8.27; II Co. 9.8; 13.3; Rm. 14.4).
Porém;
  •  Não está satisfeito apesar de ter uma posição privilegiada;
  • Um pesquisador, diligente, capaz de aprender; 
  • Um homem convertido, crente, confessando, regozijando-se;
  • Uma pessoa castrada (como as empregadas em quartos orientais);
  • Um homem impotente ou não casado;
  • Um camareiro ou mordomo; 
  • Chefe de gabinete, procurador ou tesoureiro (oficial do governo);
  • Um homem privado de sua virilidade (não era vigoroso), Dt. 23.1.


O etíope recebe uma atenção especial, pois era um home negro judeu. Em todo o Oriente Próximo, era comum que homens ocupando posições de poder fossem castrado. O Tanakh traz vários exemplos, incluindo o de ‘ved-Melekh’, o cuxita (etíope), em Jeremias 38.7. O termo também pode se referir a um oficial de posto elevado.

Encontra-se na Bíblia outras passagens que falam sobre eles;
  •   Dois ou três eunucos olharam para ele, II Rs. 9.32;
  • Os sete eunucos que serviram ao rei Assuero, Et. 1.10; 
  •   Nem diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca, Is. 56.3;
  • Ebede-Meleque, o etíope, eunuco, Jr. 38.7; 
  •   Aspenaz, chefe dos eunucos, Dn. 1.3; 
  •   Há eunucos de nascença, Mt. 19.12; 
  •   A si fizeram eunucos (celibato) Mt. 19.12; 
  •   Um etíope eunuco, At. 8.27.
Era comum usar eunucos, como homens de confiança e oficiais, nos governos orientais.
A Etiópia correspondia, nessa época, à região da Núbia, desde o alto do Nilo (da catarata de Assuã) até Cartum. É Cuxe (Is. 18.1), terra dos descendentes de Cuxe, filho de Cam (Gn. 10.6). 

Candace é o título hereditário das rainhas etíopes, semelhante a Faraó, no Egito, e Abimeleque na Filístia. 
A rainha mãe etíope, era responsável pelos deveres seculares do monarca reinante (considerado demasiado sagrado para exercer esses serviços).
Ramsés III, o Egito caiu na decadência, Salomão casou-se com a filha de um dos últimos soberanos da vigésima primeira dinastia, que foi vencido por Sisaque I, general dos mercenários da Líbia, e quem, por sua vez, fundou a vigésima segunda dinastia (I Rs. 11.40; 14.25,26).
Na era de Ezequias, o Egito foi conquistado pelos etíopes do Sudão e eles constituíram a vigésima quinta dinastia, da qual o terceiro soberano foi Tiraca (II Rs. 19.9).
Em 674 a. C., o Egito foi vencido pelos assírios, que o dividiram em vinte satrápias e Tiraca foi expulso para seu domínio ancestral.
Catorze anos mais tarde revoltou-se com êxito o Egito sob Semético I de Saís, fundador da vigésima sexta dinastia. Entre os seus sucessores havia Neco (II Rs. 23.29) e Hofra ou Apries (Jr. 37.5,7, 11). Essa dinastia findou-se em 525 a. C., quando a terra foi subjugada por Cambises. Pouco depois se tornou satrápia da Pérsia.
A religião do Egito era uma estranha mistura do panteísmo e do culto prestado a animais, sendo os deuses na forma desses.
Enquanto as classes intelectuais reduziam as suas múltiplas deidades em manifestações de um só ser onipresente e onipotente, os incultos tinham os animais como encarnações dos deuses.
No Império Antigo, Ptá (o criador), o padroeiro de Mênfis, tinha o primeiro lugar no Panteão egípicio; depois Amom, o padroeiro de Tebas, o suplantou. Amom, como também a maioria dos outros deuses, identificou-se com Rã, o deus solar de Heliópolis.
Os egípcios acreditavam na ressurreição e em recompensas e punições no futuro. O juiz dos mortos era Osíris, que fora morto por Sete, o representante do mal, e depois ressuscitado. Vingou a sua morte seu filho Horo, a quem, como Redentor, os egípcios invocavam. Osíris e Horo, juntamente com Isis, mulher daquele, constituíram uma trindade, representando o deus solar sob aspectos diferentes.

II - Uma perspectiva Evangelística Missionária

Além disso, o episódio mostra como se realizava uma iniciação na Igreja primitiva:
  •   Encontro,;
  •  Anúncio;
  •   Catequese;
  •    Batismo.

Encontro, de um lado tinha as pessoas que buscam algo ou alguém que lhes dê sentido para vida;
Anúncio, de outro lado, o missionário obedece ao Espírito, que lhe indica o momento e o lugar oportuno para esclarecer quem as pessoas buscam e para fazer o grande anúncio. 
Discipulado, não basta ler e estudar a Sagrada Escritura. É necessário que alguém abra a perspectiva da fé para mostrar que a Bíblia, espelho da experiência humana, é o anúncio de Jesus Cristo (Lc. 4.16-21; 24.25-27), 
Batismo, o rito do batismo é o sinal que exprime a aceitação de que Jesus é o novo sentido para a vida do batizado, 
Ler em voz alta era uma forma de mostrar reverência ao texto sagrado na antiguidade. Isso prova que o eunuco etíope buscava a Deus.
Dos sete que foram escolhidos para servir às mesas (At. 6.5), um foi martirizado logo, e outro transformado em evangelista. Também a necessidade de servir às mesas desapareceu com a dispersão da igreja (At. 8.1). Agora vemos Filipe, chamado pelo Senhor, deixar um centro movimentado onde está experimentando grandes bênçãos, para ir  a um lugar deserto, a fim de evangelizar um único homem.
Observe como Filipe foi obediente, a ponto de sair de um maravilhoso avivamento e de uma cidade como todo conforto para ir ao deserto e pregar a uma única pessoa. Ele sequer sabia por deveria ir para o sul nem a distância a percorrer. Gaza ficava a 160 km do avivamento. O evangelho havia se estendido dos judeus etnicamente puros, para os samaritanos de raça mista por intermédio de Felipe, Pedro e João (Atos 8. 5-25). Agora, o anjo do Senhor levou Filipe a contatar uma pessoa totalmente gentia da Etiópia. Com isso, o evangelho se expandiu para o sul, para África. Irineu, um dos pais da igreja primitiva (180 a. C.), relata em seus escritos que esse eunuco se tornou dedicado missionário cristão entre os etíopes.


Bibliografia

A Bíblia Explicada
Bíblia Anotada
Bíblia DAKE
Bíblia de Estudo King James
Bíblia de Estudo Palavras Chave
Bíblia de Estudo Vida Abundante
Bíblia Sagrada Edição Pastoral
Bíblia, Novo Testamento Versão Restauração
Comentário Judaico do Novo Testamento
Pequena Enciclopédia Bíblica



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...