Texto Básico: Ap 2:1-7
“Lembra-te,
pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não,
brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te
arrependeres” (Ap 2:5).
INTRODUÇÃO
“Éfeso” significa “desejável”. Essa igreja, que
começou bem a sua jornada rumo à Pátria celestial, havia abandonado o que lhe
deu o conceito de desejável: o Amor. Quanto à doutrina, era ortodoxa e
implacável, mas quanto à prática do amor, tornara-se heterodoxa, fria e seca. O
amor é a essência da vida cristã. (Mt 24:12; 1Co 13). Uma igreja sem amor é uma
igreja em decadência total.
I. ÉFESO, UMA
IGREJA SINGULAR
A cidade de Éfeso, capital da Ásia Menor, era uma
das maiores cidades do mundo. Ali ficava o templo de Diana, uma das sete
maravilhas do mundo antigo. Era uma cidade cosmopolita (que apresenta aspecto
comuns a vários paises), essencialmente gentílica. Era uma cidade idólatra, um
centro de magia. Ser crente em Éfeso não era popular. Lá ficava um dos maiores
centros do culto ao imperador. Muitos crentes estavam sendo perseguidos e até
mortos por não se dobrarem diante de César. Outros estavam sendo perseguidos
por não adorarem a grande Diana dos Efésios. Outros estavam sendo seduzidos a
cair nos falsos ensinos dos falsos apóstolos. Mas os crentes estavam prontos a
enfrentar todas as provas por causa do nome de Jesus (Ap 2:2,3). Eles não
esmoreciam. Permanecemos fiéis quando somos perseguidos, provados e seduzidos?
Hoje muitos crentes querem a coroa sem a cruz; querem a riqueza sem o trabalho;
querem a salvação sem a conversão; querem as bênçãos de Deus sem o Deus das
bênçãos.
1. Paulo em Éfeso. Paulo visitou a
cidade de Éfeso no final da segunda viagem missionária, por volta do ano 52
d.C. Em sua terceira viagem missionária, permaneceu em Éfeso três anos,
ensinando tanto a judeus como a gregos, pregando tanto acerca do arrependimento
como da fé em Cristo. Paulo tanto evangelizava como ensinava. Ele era um
evangelista e um mestre. Em Éfeso, Paulo enfrentou feras, tribulações maiores
que suas forças. Nessa cidade, o evangelho desbancou a idolatria. Durante sua
primeira prisão em Roma, Paulo escreveu a carta aos efésios, agradecendo a Deus
o profundo amor que havia na igreja. Através da instrumentalidade de Paulo,
vários sinais de um poderoso avivamento podem ser constatados em Éfeso. Dentre
eles destacamos:
a) os novos convertidos receberam
um derramamento do Espírito (At 19:1-7). Aqueles que haviam recebido apenas o
batismo de João, ao ouvirem sobre o Espírito Santo, foram batizados em nome de
Jesus, receberam o Espírito Santo e tanto profetizaram como falaram em línguas.
A mesma experiência que já havia acontecido em Jerusalém e Samaria agora
acontecia também em Éfeso. Era a dispensação da graça estendendo seus
horizontes para um campo totalmente gentílico.
b) os enfermos eram curados (At
19:11,12). O evangelho em Éfeso chegou não apenas em palavras, mas, sobretudo,
em poder. Paulo pregou tanto aos ouvidos quanto aos olhos. Não apenas as
pessoas foram perdoadas e salvas, mas também curadas e libertas. É importante
ressaltar que a fonte do poder para curar não estava em Paulo. O milagre não
era feito pelo poder inerente de Paulo. O evangelista Lucas diz que Deus, pelas
mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos
lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam,
e os espíritos malignos se retiravam (At 19:11,12).
c) os crentes confessavam e
denunciavam publicamente suas obras (At 19:18). Onde há avivamento, há
confissão de pecados. Onde o pecado é encoberto, as chuvas do céu são retidas.
Onde o pecado é escondido, o derramamento do Espírito não é revelado. Aqueles
que crêem verdadeiramente em Cristo são os que confessam publicamente suas
obras más e as abandonam. Os efésios convertidos a Cristo não se ocuparam de
denunciar os pecados dos outros; eles denunciavam suas próprias obras, e isso
de forma pública.
d) os laços com o ocultismo foram
decisivamente rompidos (At 19:19). Muitos dos efésios convertidos a Cristo
vieram dos redutos do ocultismo, tão abundantes em Éfeso. Eles não apenas
denunciaram suas obras más, mas também queimaram em praça pública seus livros
de artes mágicas. Não há compatibilidade entre a fé cristã e o ocultismo. Não
há ligação entre Cristo e os demônios. Não há sintonia entre o santuário de
Deus e os ídolos. Não há comunhão entre a luz e as trevas.
2. A solidez doutrinária de Éfeso.
Em toda a Ásia Menor, não havia igreja mais dinâmica e ortodoxa do que a de
Éfeso. Era uma igreja apologética por excelência. Afinal, tivera o privilégio
de ter como pastor, durante três anos, o apóstolo Paulo, o maior teólogo e
mestre do Cristianismo (At 20:31). Durante esse tempo, Paulo lhe expôs todo o
conselho de Deus (At 20:27). Até o próprio Jesus Cristo elogiou aquela igreja:
“Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes
sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu
os achaste mentirosos; e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome
e não te cansaste. Tens, porém, isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, as
quais eu também aborreço”(Ap 2:2,3,6). O preparo teológico da igreja de Éfeso
era tão sólido, que o seu pastor capacitara-se, inclusive, a confrontar os que
se diziam apóstolos (Ap 2:2); ela tinha discernimento espiritual. Tornou-se
intolerante com a heresia (Ap 2:2) e com o pecado moral (Ap 2:6). Lutou de
forma renhida contra as falsas doutrinas dos nicolaítas, que pregavam uma nova
versão do cristianismo. Eles pregavam um evangelho liberal, sem exigências e
sem proibições; eles queriam gozar o melhor da igreja e o melhor do mundo; eles
incentivavam os crentes a comer comidas sacrificadas aos ídolos; eles ensinavam
que o sexo antes e fora do casamento não era pecado; eles acabavam estimulando
a imoralidade. Mas a igreja de Éfeso não tolerou a heresia e odiou as obras dos
nicolaítas. A igreja evangélica brasileira precisa aprender nesse particular
com a igreja de Éfeso. Infelizmente, estamos vivendo a época da paganização da
igreja. A igreja está perdendo o compromisso com a verdade. As pessoas hoje
parecem ter aversão à teologia ortodoxa. Elas buscam novidades. O que determina
o rumo da igreja não é mais a Palavra de Deus, mas o gosto dos consumidores. A
igreja não prega a Palavra, mas o que dá ibope. A igreja oferece o que o povo
quer ouvir. A igreja está pregando outro evangelho: o evangelho do descarrego,
do sal grosso, da quebra de maldições, da prosperidade material, e não da
santificação; da libertação, e não do arrependimento. A igreja está perdendo a
capacidade de refletir. Os crentes contemporâneos não são como os bereanos, nem
como os crentes de Éfeso, fiéis à doutrina. Estamos vendo uma geração de
crentes analfabetos em Bíblia, crentes ingênuos espiritualmente. Há uma
preguiça mental doentia progredindo em nosso meio. Os crentes engolem tudo
aquilo que lhes é oferecido em nome de Deus, porque não estudam a Palavra.
Crentes que já deveriam ser mestres, ainda estão como crianças agitadas de um
lado para o outro, ao sabor dos ventos da doutrina. Correm atrás da última
novidade. São ávidos pelas coisas sobrenaturais, mas deixam de lado a Palavra
do Deus vivo.
3. Uma igreja de ministros excelentes. Além de
Paulo, a igreja em Éfeso foi pastoreada por Timóteo e Tíquico. Mais tarde, o
apóstolo João pastoreou aquela igreja. Agora, depois de quarenta anos, Jesus
envia uma carta à segunda geração de crentes, mostrando que a igreja permanecia
fiel na doutrina, mas já havia se esfriado em seu amor. A tradição relata que
quando João, já muito idoso e demasiado fraco para caminhar, foi levado à
igreja de Éfeso, ele admoestava aos membros, dizendo-lhes: “Filhinhos,
amemo-nos uns aos outros”(HENDRIKSEN, William. Mas que Vencedores, p. 69).
II. O PROBLEMA DE
ÉFESO
1. Um grave problema. A
igreja em Éfeso Ela era uma referência em toda aquela região da Ásia.
Destacava-se por seu testemunho, esforço e extenuante labor pela expansão do
Reino de Deus. Mas, apesar de todas as suas inegáveis virtudes e qualidades,
havia um grave problema com a igreja em Éfeso: estava desconectada da prática
da piedade e do exercício do amor. Se ela se dispusesse a resolver essa falha
seria uma igreja perfeita. George Ladd comentando sobre o esfriamento do amor
da igreja de Éfeso, diz: “Este era um fracasso que atacara, nas bases, sua vida
cristã. O Senhor tinha ensinado que o amor mútuo devia ser a marca que
identificava a comunhão dos cristãos (João 13:35). Os convertidos de Éfeso
tinham experimentado esse amor nos primeiros anos de sua nova existência; mas
parece que a luta contra os falsos mestres e seu ódio por ensinos heréticos
trouxeram endurecimento aos sentimentos e atitudes rudes a tal ponto que
levaram ao esquecimento da virtude cristã suprema que é o amor. Pureza de
doutrina e lealdade não podem nunca ser substitutos para o amor” (Ladd, George.
Apocalipse, p. 32).
2. O primeiro amor. Alguns acham que a perda do
“primeiro amor” por parte da igreja de Éfeso era uma baixa produtividade ou um
relaxamento no trabalho de Deus. Mas de acordo com o que Jesus falou na carta à
Igreja de Éfeso, não se trata apenas de “relaxar” no trabalho de Deus, pois o
Senhor lhes disse: “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua
perseverança” (Ap 2:2a). A igreja de Éfeso se destacava por suas muitas obras,
seu labor árduo e sua perseverança paciente. Não tolerava homens maus em seu
meio. Tinha a capacidade de discernir falsos apóstolos e lidar com eles de modo
apropriado. Tampouco se trata de desânimo ou desistência, uma vez que nesta
mensagem profética o Senhor Jesus louva a persistência desses cristãos de
Éfeso: “e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não
te deixaste esmorecer” (Ap 2:3). O que mais denota ou caracteriza a perda deste
“primeiro amor” é o arrefecimento da chama da afeição. O entusiasmo ardente dos
primeiros dias havia desaparecido. Ao olharem para trás, seus membros veriam
dias melhores nos quais seu amor como noiva de Cristo fluía de modo caloroso,
pleno e desimpedido. Continuavam firmes na doutrina e ativos no serviço, mas o
verdadeiro motivo de toda adoração e serviço não estava presente. Precisavam se
lembrar dos dias mais venturosos do início da fé, se arrepender da perda do
“primeiro amor” e resgatar o serviço dedicado que havia caracterizado o princípio
de sua vida cristã. De outro modo, o Senhor removeria o “candeeiro” de Éfeso,
ou seja, aquela congregação deixaria de existir. Seu testemunho se apagaria.
Infelizmente, foi o que aconteceu.
3. Amnésia do Amor. Como alguém pode esquecer de sua
identidade? É isso mesmo, o amor é o cartão de identidade do cristão. Bem disse
o pr. Claudionor de Andrade, “esquecer o primeiro amor não é incidente
teológico, é queda espiritual”. Jesus advertiu: “Deixaste o primeiro
amor”(2:4). Isto se refere ao primeiro e profundo amor e dedicação que os
efésios tinham por Cristo e sua Palavra. Esta advertência nos ensina que
conhecer a doutrina correta, obedecer a alguns dos mandamentos e ir aos cultos
na igreja não bastam. Quando nosso conhecimento teológico não nos move a nos
afeiçoarmos mais a Deus o amor esfria. Conhecemos muito a respeito de Deus, mas
não desejamos ter comunhão com ele. Como o profeta Jonas falamos que Ele é
todo-poderoso, mas o desafiamos com nossa rebeldia. Falamos que ele é amável,
mas não temos prazer em falar com ele em oração. A igreja deve ter, acima de
tudo, amor sincero a Jesus Cristo e sua Palavra como um todo. O amor sincero a
Cristo resulta em devoção sincera a Ele, em pureza de vida e em amor à
verdade(2Co 11:3). Deixamos também nosso primeiro amor quando nosso amor por
Jesus é substituído pelo nosso zelo religioso. Defendemos nossa teologia, nossa
fé, nossas convicções e estamos prontos a sofrer e a morrer por essas
convicções, mas não nos deleitamos mais em Deus. Não nos afeiçoamos mais a Jesus.
Já não sentimos mais saudades de estar com ele. Os fariseus eram zelosos das
coisas de Deus; observavam com rigor todos os ritos sagrados, mas o coração
deles estava seco como um deserto. Hoje, também, existem crentes fiéis, mas sem
amor. Crentes ortodoxos, mas secos como um poste. Crentes que conhecem a
Bíblia, mas perderam o encanto com Jesus. Crentes que morrem em defesa da fé e
atacam a heresia como escorpiões do deserto, mas não amam mais o Senhor com a
mesma devoção. Crentes que trabalham à exaustão, mas não contemplam o Senhor na
beleza de sua santidade. Sofrem pelo evangelho, mas não se deleitam no
evangelho. Combatem a heresia, mas não se deliciam na verdade. Deixamos, ainda,
nosso primeiro amor quando examinamos os outros e não examinamos a nós mesmos.
A igreja de Efeso examinava os outros, mas não era capaz de examinar a si
mesma. Tinha doutrina, mas não tinha amor. Era capaz de identificar os falsos
ensinos e os falsos apóstolos, mas não identificava a frieza do amor em si
mesma. Identificava a heresia nos outros, mas não sua própria apatia
espiritual. Tinha zelo pela ortodoxia, mas estava vazia da principal marca do
cristianismo, o amor.
III. VOLTANDO AO
PRIMEIRO AMOR
Jesus adverte: “Lembra-te, pois, de onde caíste,
arrepende-te e volta à prática das primeiras obras…”(Ap 2:5). Estamos vivendo
uma crise de valores na igreja. Abandonamos a simplicidade do evangelho.
Substituímos a sã doutrina pelas novidades do mercado da fé. Trocamos a verdade
pelo sucesso. Substituímos a pregação pelo espetáculo. Colocamos no lugar da
oração, em que nos quebrantávamos e chorávamos pelos nossos pecados, os grandes
ajuntamentos, em que saltitamos ao som estrondoso e ensurdecedor dos nossos
instrumentos eletrônicos. “Precisamos desesperadamente voltar ao primeiro amor.
Precisamos de um reavivamento que nos traga de volta o frescor da vida
abundante em Cristo Jesus. Precisamos desesperadamente do revestimento e do
poder do Espírito Santo. Precisamos de uma igreja fiel que prefira a morte à
apostasia. Uma igreja santa que prefira o martírio ao pecado. Uma igreja que
ame a Palavra mais do que o lucro. Uma igreja que chore pelos seus pecados e
pelas almas que perecem, e não pelas dificuldades da vida presente. Precisamos
de uma igreja que tenha visão missionária e compaixão pelos que sofrem. Uma
igreja que tenha ortodoxia e piedade, doutrina e vida, discurso e prática. Uma
igreja que pregue aos ouvidos e aos olhos”(Rev. Hernandes Dias Lopes).
1. Rica em obras, pobre em amor. O Senhor começa Sua carta com um
elogio aos crentes efésios: “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua
paciência…”. Eles eram pacientes e trabalhadores. Era uma igreja que possuía um
grau avançado de conhecimento bíblico, e não temia utilizá-lo em sua
administração, a ponto de provarem os apóstolos para ver se eram realmente
verdadeiros. Ou seja, podemos entender que era uma igreja que não tolerava o
pecado. Seus crentes eram incansáveis em seus trabalhos em prol do Reino de
Deus. Mas, de alguma forma, eles esqueceram-se do primeiro amor. É provável que
quanto mais se ocupassem em seus trabalhos, mais se esquecessem de para quem
estavam trabalhando e da comunhão que deveriam ter com Jesus. Isso o Senhor não
iria permitir. Ele quer o nosso amor, mais do que as muitas ocupações que
podemos ter em nossas igrejas. Até mesmo o auto-sacrifício sem o amor nada é,
conforme destaca o apóstolo Paulo em 1Co 13:3: “E ainda que distribuísse toda a
minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para
ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria”.
2. Amar é a mais elevada das obras. O amor a Deus deve ser
prioritário no coração de quem procura servi-lo (Mt 10:37). Deus se alegra em
ver seus filhos dando prioridade a Ele. Priorizar a Deus é amá-lo acima de
todas as coisas. Aliás, é o mandamento mais sublime: ““Amarás ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento”
(Mt 22:37). Jesus não aceita que o amemos parcialmente; Ele requer que o amemos
“de todo o nosso coração“. Devemos amá-lo, também, “de toda a alma“, ou seja,
toda a nossa personalidade, toda a nossa individualidade tem de ser sujeita ao
Senhor e à Sua vontade. Como sabemos, a alma humana é a sede dos pensamentos,
das emoções, da personalidade, é o elemento que nos faz distintos uns dos
outros e cujas principais faculdades são a vontade, o intelecto e o sentimento.
Ora, é a submissão de tudo isto a Deus que significa o nosso amor ao Senhor.
Quando amamos a Deus, colocamos nosso sentimento, nosso intelecto e nossa vontade
a serviço do Senhor. Somente assim realmente demonstraremos que amamos a Deus.
Muitos têm fracassado na fé, têm deixado de frutificar porque não amam de toda
a alma, porque querem dar um espaço para o “eu”, quando deveriam renunciar a si
mesmos (Mt 16:24) e deixar Cristo viver neles. Sigamos o exemplo do apóstolo
Paulo e não mais vivamos, mas deixemos que Cristo viva em nós (Gl 2:20). Veja o
belo exemplo de Habacuque que amava a Deus sobre todas as coisas, mesmo
desprovidos de qualquer bênção material: “Ainda que a figueira não floresça,
nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam
mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja
vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação”
(Hc 3:17,18).
IV. LEMBRANDO-SE DO
PRIMEIRO AMOR
A igreja de Éfeso foi chamada a lembrar-se, a
arrepender-se e a voltar à prática das primeiras obras. Caso esse expediente
não fosse tomado, Jesus sentencia: “Se não te arrependeres, logo virei contra
ti e tirarei o teu candelabro do seu lugar” (Ap 2:5). Jesus não apenas
diagnostica a doença da igreja, más também lhe oferece o remédio eficaz. A
igreja precisava reavivar sua memória, mudar sua mente e sua atitude. Não basta
reconhecer o erro nem mesmo sentir tristeza por ele; é preciso voltar as costas
ao pecado e a face para Deus em uma demonstração sincera de arrependimento. É
preciso voltar às primeiras obras. É preciso resgatar o que se perdeu. É
preciso voltar à simplicidade do cristianismo sem as sofisticações que
agregamos na caminhada rumo ao Céu. A ordem de Jesus é arrepender e viver ou
não se arrepender e morrer. O arrependimento produz vida; e a desobediência,
morte. A falta de arrependimento apagou a lâmpada da igreja de Éfeso, e a mesma
cidade que experimentara um poderoso avivamento no passado, agora jaz
mergulhada em um caudal de trevas e obscurantismo. Como voltar ao primeiro
amor? O próprio Jesus aponta o caminho de restauração: “Lembra-te, pois, de
onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras…”(Ap 2:5).
Cristo falou de três passos práticos que devemos dar a fim de voltarmos ao
primeiro amor: (1) “Lembra-te”; (2) “Arrepende-te”; (3) “Volta à prática das
primeiras obras”.
1. Lembrar-se de onde caiu. Jesus foi enfático à igreja:
“Lembra-te, pois, de onde caíste”. A igreja não está sendo chamada a relembrar
seu pecado. Não está sendo dito: lembra-te em que situação caíste, mas de onde
caíste. O filho pródigo começou seu caminho de restauração quando se lembrou da
casa do Pai. O passado precisa novamente tornar-se um presente vivo. O profeta
Jeremias declarou: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm
3:21). A solução é nos lembrarmos de onde começamos a nos afastar do Senhor.
Deus não nos manda aprender nada novo, apenas lembrar-nos de onde caímos:
“lembra-te de onde caístes”. Algumas lembranças têm o poder de produzir em nós
um caminho de restauração. Muitas vezes não nos damos conta daquilo que temos
perdido. E uma boa forma de dimensionar nossas perdas é contrastar aquilo que
estamos vivendo hoje com aquilo que já experimentamos antes em Deus. Relembrar
os primeiros momentos de fé, de experiência com Deus é a melhor maneira de
retomar a experiência do primeiro amor. Esse passo é de suma importância para
os que se esqueceram de que a comunhão com o Senhor é mais importante do que as
coisas que fazemos para Ele.
2. Arrepender-se. Em seguida Jesus disse:
“arrepende-te“. Arrependimento não é emoção, é decisão. É atitude. Não precisa
existir choro, basta decisão. O filho pródigo não só se lembrou da casa do Pai,
mas voltou para a casa do Pai. Lembrança sem arrependimento é remorso. Essa foi
a diferença entre Pedro e Judas. Arrepender-se representa mudar a mente, mudar
a direção, voltar-se para Deus. Representa deixar o pecado. Representa romper
com o que está entristecendo o nosso Senhor Jesus. O que está fazendo seu
coração esfriar? Deixe isso de lado. Arrependa-se. Há uma solene advertência à
igreja, caso ela não se arrependa. Jesus disse: “logo virei contra ti e tirarei
o teu candelabro” (Ap 2.5). Candelabro é feito para brilhar. Se ele não brilha,
ele é inútil, desnecessário. A igreja não tem luz própria. Ela só reflete a luz
de Cristo. Mas, se não tem intimidade com Cristo, ela não brilha; se ela não ama,
não brilha, porque quem não ama está nas trevas. Portanto, Jesus Cristo
rejeitará toda congregação ou igreja que não se arrepender de sua falta de amor
e obediência ao Senhor Jesus Cristo, e a removerá do seu reino.
3. Voltar a prática das primeiras obras. Finalmente Jesus disse: “volta à
prática das primeiras obras“. Como mencionei no item III.1 acima, os crentes
efésios eram ricos em obras. Foi o próprio Jesus quem o disse. Então por que
voltar às primeiras obras? Certamente, esses crentes eram bastante esforçados
em seus trabalhos em prol do Reino de Deus. Todavia, no trabalho que
desempenhavam em prol do reino de Deus estava ausente o principal e
indispensável elemento: o amor. É provável que quanto mais se ocupassem em seus
trabalhos, mais se esquecessem de para quem estavam trabalhando e da comunhão
que deveriam ter com Jesus. Nenhuma obra é completa e perfeita sem o amor
incondicional a Jesus Cristo. Você que se afastou dele, que está frio. Você que
deixou de orar, de se deleitar na Palavra. É tempo de voltar-se para Jesus, de
se devotar novamente a Ele. Arrependa-se de ter deixado a verdadeira ortopraxia
cristã, conforme os ditames da Palavra de Deus, e volte à prática das primeiras
obras. Mas, não adianta se arrepender e depois repetidamente se arrepender. É
necessário arrependimento e depois frutos do arrependimento, ou seja, as
primeiras obras. Ninguém se arrepende de um pecado e continua praticando esse
mesmo pecado. Amém?
CONCLUSÃO
A carta à igreja dos efésios nos ensina que a
ortodoxia uma vez praticada sem amor, esfria e mata a verdadeira
espiritualidade. Não podemos, a pretexto de “zelar” pela verdade, desconsiderar
o cultivo de uma profunda espiritualidade banhada em amor. A nossa mensagem
deve tocar mentes e corações. Assim, como o Senhor requereu da igreja de Éfeso,
devemos voltar ao primeiro amor e encharcarmo-nos do Evangelho da Graça de
Deus.
Por Ev. Luciano de Paula Lourenço
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