Por Odemir Silva
Pesquisa realizada pelo aluno Davi Santos da Silva, estudante do segundo ano no Ensino Médio, disciplina História.
Desde o renascimento do Sacro Império Romano por Otão I em 962, os Papas e os Imperadores envolveram-se numa contínua luta pela supremacia. Este conflito resultou geralmente em vitórias para o partido papal, mas criou um amargo antagonismo entre Roma e o Império Germânico, o qual aumentou com o desenvolvimento de um sentimento nacionalista na Alemanha durante os séculos XIV e XV. No século XIV, o reformador inglês John Wycliff distinguiu-se por traduzir a Bíblia, contestar a autoridade pontifícia e censurar o culto dos santos das relíquias.
O Cisma do Ocidente (1378-1417) fragilizou
gravemente a autoridade pontifícia e tornou premente a necessidade de reformar
a Igreja. O Renascimento e a invenção da imprensa reacenderam
as críticas à Igreja: a corrupção e hipocrisia do clero em geral e, em
particular, a ignorância e superstição das ordens mendicantes; a ambição dos
Papas, cujo poder temporal originava divisões entre os crentes; e a teologia
das escolas responsável pela deturpação e desumanização da mensagem cristã.
A execução, em 1415, de Hus na fogueira
acusado de heresia levou diretamente às guerras hussitas, uma violenta
expressão do nacionalismo boêmio, suprimido com dificuldade pelas forças
aliadas do Sacro Império Romano e do Papa. Estas guerras foram precursoras da
guerra civil religiosa na Alemanha na época de Lutero. Essas críticas foram
feitas por alguns dos humanistas que procuraram conciliar o movimento humanista
com a mensagem das Escrituras, criticando algumas práticas da Igreja. Estas
críticas serviram de base a Martinho Lutero e João Calvino para clamarem pela
Bíblia, mais do que a Igreja como fonte de
toda a autoridade religiosa.
Reforma Religiosa
No século XVI a Europa foi abalada por uma
série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja
católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente
como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso.
No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo em que as mudanças na economia europeia, juntamente com a ascensão da burguesia.
Por isso, algumas correntes do movimento
reformista se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o
homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.
Os fatores que desencadearam a Reforma Religiosa
Uma das causas importantes da Reforma foi o
humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado
muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade,
sofrimento. No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e
ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de
Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero
efetivasse o rompimento com a igreja católica.
Moralmente, a Igreja estava em decadência:
preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as
questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria
a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos,
venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que
foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão
pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe
consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma
região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o
declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais
importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao
anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que
representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi
fundamental na Reforma religiosa.
Ora, na ideologia católica, a única forma de
riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram
práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do
capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que
justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao
comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma,
satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital
como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia,
ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.
Lutero e a Reforma
“Martinho Lutero era um monge agostiniano, de origem pequeno-burguesa, da região da Saxônia”. Um homem pessoalmente angustiado e com tendências ao misticismo. Seu rompimento com a igreja católica deu-se em razão da venda de indulgências. Para concluir a construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão X (1513-1521) determinou a venda de indulgências para toda a cristandade e encarregou o dominicano Tetzel de comerciáliza-las na Alemanha.
Lutero protestou violentamente contra tal
comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg onde exerceu seu
ministério de mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas,
condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências. O papa Leão X exigiu
uma retratação, sempre recusada.
Lutero foi excomungado e reagiu
imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de excomunhão). Frederico príncipe eleito da Saxônia protetor
de Lutero recolheu-o em seu castelo, onde o pensador religioso desenvolveu suas ideias.
As principais foram:
·
A
justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor
secundário. A única coisa que salva o homem é a fé. Sem ela, de nada valem as
obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem
intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende
para Deus sua fé;
·
Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia
eclesiástica, uma inutilidade;
·
Outra ideia de Lutero era o livre-exame. A Igreja era considerada
incompetente para salvar o homem; por isso sua interpretação das Sagradas
Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à
Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia
interpretar a Bíblia segundo sua própria consciência, emancipando-se no plano
da ideologia religiosa.
Consequências da Reforma
Apesar da diversidade das forças
revolucionárias do século XVI, a Reforma teve grandes e consistentes resultados
na Europa ocidental. Em geral, o poder e a riqueza perdidos pela nobreza feudal
e pela hierarquia da Igreja Católica Romana foram transferidos para os novos
grupos sociais em ascensão e para a coroa. Várias regiões da Europa conseguiram
a sua independência política, religiosa e cultural. Mesmo em países como a
França e na região da atual Bélgica, onde o Catolicismo Romano prevaleceu, um
novo individualismo e nacionalismo foram desenvolvidos na cultura e na
política.
A destruição da autoridade medieval libertou
o comércio e as atividades financeiras das restrições religiosas e promoveu o
capitalismo. Durante a Reforma, as línguas nacionais e a literatura foram
estimuladas através da difusão dos textos religiosos escritos na língua
materna, e não em latim. A educação dos povos foi, também, estimulada pelas
novas escolas fundadas por Colet na Inglaterra, Calvino em Genebra e pelos
príncipes protestantes na Alemanha.
A religião deixou de ser monopólio de uma
minoria clerical privilegiada e passou a ser uma expressão mais direta das
crenças populares. Todavia, a intolerância religiosa manteve-se inabalável e as
diferentes Igrejas continuaram a perseguir-se mutuamente, pelo menos, durante
mais de um século.
Fica uma provocação: PRECISAMOS FAZER UMA REFORMA?
Nenhum comentário:
Postar um comentário