Por Odemir Silva
Somente
Deus pode verdadeiramente revelar Deus. Esta revelação de si mesmo, tão
necessária à salvação, encontra-se nas Escrituras. Da mesma fonte deriva a
opinião de Deus sobre o homem, que é a opinião verdadeira, pois quem melhor
pode conhecer o homem do que o seu Criador? Nestes dias, quando as falsas
filosofias representam de modo errado a natureza humana, é de grande
importância que conheçamos a verdade. Assim melhor poderemos compreender também
as doutrinas sobre o pecado, o juízo e a salvação, as quais se baseiam no ponto
de vista bíblico da natureza do homem.
I. A ORIGEM DO HOMEM
1. Criação especial.
A
Bíblia ensina claramente a doutrina de uma criação especial, que significa que
Deus fez cada criatura "segundo a sua espécie". Ele criou as várias
espécies e então as deixou para que se desenvolvessem e progredissem segundo as
leis do seu ser. A distinção entre o homem e as criaturas inferiores implica a
declaração de que "Deus criou o homem à sua imagem".
2. Evolução.
Em
oposição à criação especial, surgiu e teoria da evolução que ensina que todas
as formas de vida tiveram sua origem em uma só forma e que as espécies mais
elevadas surgiram de uma forma inferior. Por exemplo, o que outrora era
caramujo transformou-se em peixe; o que era peixe chegou a ser réptil; o que
outrora era réptil tomou-se pássaro, e (para encurtar a história) o que outrora
era macaco evoluiu e tornou-se ser humano. A teoria é a seguinte: em tempos
muito remotos apareceram a matéria e a força — mas como e quando, a ciência não
o sabe. Dentro da matéria e da força surgiu uma célula viva — mas de onde ela
surgiu também ninguém sabe. Nessa célula havia uma centelha de vida, da qual se
originaram todas as coisas vivas, desde o vegetal até ao homem, sendo este
desenvolvimento controlado por leis inerentes. Essas leis, em conexão com o
meio ambiente, explicam a origem das diversas espécies que têm existido e que
existem, incluindo o homem. De maneira que, segundo essa teoria, houve uma
ascensão gradual e constante desde as formas inferiores de vida às formas mais
elevadas até chegar ao homem. Que constitui uma espécie? Uma classe de plantas
ou animais que tenham propriedades e características comuns, e que se possam
propagar indefinidamente sem mudarem essas características, constitui espécie.
Uma
espécie pode produzir uma variedade, isto é, uma ou mais plantas ou animais
isolados possuindo uma peculiaridade acentuada que não seja comum à espécie em
geral.
Por
exemplo, um tipo especial de cavalo de corrida pode ser produzido por processo
especial; mas é sempre cavalo. Quando se produz uma variedade e essa se
perpetua por muitas gerações temos uma raça. De maneira que na espécie canina
(cão) temos muitas raças que diferem consideravelmente uma das outras; porém,
todas retêm certas características que as marcam como pertencentes à família
dos cães. Ao lermos que Deus fez cada criatura segundo a sua espécie, não
dizemos que Deus as fez incapazes de se desenvolverem em variedades novas;
queremos dizer que ele criou cada espécie distinta e separada e colocou uma
barreira entre elas, de maneira que, por exemplo, um cavalo não se deveria
desenvolver de maneira que se transformasse em animal que não seja cavalo.
Qual é
a prova pela qual se conhece a distinção entre as espécies? A prova é esta: se
os animais podem cruzar-se, e podem produzir uma descendência fértil por tempo
indefinido, então são da mesma espécie; de outra maneira, não o são. Por
exemplo, sabe-se que os cavalos e os jumentos são de diferentes espécies, e,
embora do cruzamento da égua com o jumento resulte a mula, esta não tem a
capacidade de gerar outra mula, ou seja, a espécie mula. Este fato constitui
argumento contra a teoria da evolução, pois mostra claramente que Deus colocou
uma barreira entre as espécies para que uma espécie não se transforme em outra.
Define-se
a ciência da seguinte maneira: "conhecimentos comprovados". Será a
evolução um fato comprovado? A teoria mais propagada da evolução é a de Darwin.
Entretanto, poderíamos citar os nomes de muitos cientistas eminentes que
declaram que a teoria de Darwin já caiu por faltas de provas. O Dr. Coppens
escreve: Embora os cientistas hajam trabalhado muitos anos pesquisando a terra
e os mares, examinando os restos de fósseis de um sem número de espécies de
plantas e animais, e tenham aplicado todo o gênio inventivo do homem para obter
e perpetuar novas raças e variedades, nunca conseguiram exibir uma prova
decisiva de que a transformação das espécies, pelo menos uma vez, tenha
sucedido. Os animais de hoje são como os que se vêem desenhados nas pirâmides
ou mumificados nos túmulos do Egito. São iguais àqueles que deixaram sua forma
fóssil nas rochas.
Muitas
espécies já foram extintas, outras foram achadas das quais não se descobriu
nenhum espécime muito antigo; mas não se pode provar que qualquer espécie tenha
evoluído de outra. Há um abismo intransponível entre os irracionais e o homem —
entre a forma mais elevada de animal e a forma inferior da vida humana.
Nenhum
animal usa ferramentas, acende fogo, emprega linguagem articulada, ou tem
capacidade de conhecer as coisas espirituais. Mas todas essas coisas
encontram-se na forma inferior de vida humana. O macaco mais inteligente não
passa de um irracional; mas o espécime mais degradado do homem continua sempre
um ser humano. Os evolucionistas inventaram um tipo de criatura pelo qual o
macaco passou para o estágio humano. Esse é o tal "elo perdido" que
se chama "Pithecanthropus erectus". Onde está a evidência? Há anos
alguns ossos — dois dentes, um fêmur e uma parte de um crânio — foram
descobertos na ilha de Java. Com um pouco de gesso reconstruíram o que dizem
ser o elo perdido que une os homens com a criação inferior! Outros
"elos" também se fabricaram da mesma maneira. Mas o Dr. Etheridge, examinador
do Museu Britânico, disse: "Em todo este grande museu não há uma partícula
de evidência da transmutação das espécies. Este museu está cheio de provas da
falsidade dessas idéias." Nathan G. Moore escreveu o que podemos chamar um
"exame de advogado"sobre a teoria da evolução. Seu livro baseia-se
numa avaliação dos fatos expostos em algumas das obras cientificas mais
recentes escritas em favor dessa teoria. Sendo ele advogado e profissional nas
leis da evidência, seu testemunho é de valor prático. O propósito desse
escritor é "comparar os fatos principais e submeter ao juízo do leitor
ponderado o seguinte: primeiro, se os fatos provam ou não a hipótese (uma
explicação suposta) de que o homem é produto da evolução em vez de ser criado;
e, segundo, se existe ou não uma lei ou conjunto de leis que possam explicar as
evidências de modo natural. Depois de um exame detalhado dos fatos, esse
advogado chegou às seguintes conclusões: A teoria da evolução não explica, nem
ajuda a explicar, a origem do homem; nem apresenta provas de que o homem
tivesse evoluído de uma forma inferior, mesmo fisicamente. Essa teoria nem
sequer sugere um método pelo qual o homem tenha adquirido essas qualidades mais
elevadas que o distinguem das outras formas de vida. Outro advogado, Filipe
Mauro, faz da seguinte maneira um resumo das evidências apresentadas pelos
proponentes da teoria da evolução: Imaginem um litigante em juízo a quem cabe o
ônus da prova. Ele insiste em que sua declaração está certa e exige sentença
favorável; mas não apresenta provas que sustentem as suas alegações. Na
verdade, toda a evidência apresentada em juízo depõe contra ele. Ele exige,
todavia, que a decisão seja favorável por causa das seguintes suposições: 1)
que grande número de provas, que já existiram (os "elos perdidos"
etc.) foram totalmente destruídas; 2) se essas provas pudessem ser reproduzidas
agora, elas seriam a seu favor! Tal é o estado absurdo de coisas em que a
teoria da evolução se encontra atualmente.
Os
evolucionistas procuram unir o homem ao irracional, mas Jesus Cristo veio ao
mundo para unir o homem a Deus. Ele tomou sobre si a nossa natureza para poder
glorificá-la no seu destino celestial.
"Mas
a todos quantos o receberam,deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus,
aos que crêem no seu nome" (João 1:12).
Aqueles
que participam de sua vida Divina chegam a ser membros de uma nova e mais
elevada raça — sim, filhos de Deus! Porém, essa nova raça surgiu (o "homem
novo" Efés. 2:15), não porque a natureza humana evoluísse até à Divina, mas
porque a Divina penetrou na natureza humana. E àqueles que são
"participantes da natureza divina" (2 Ped. 1:4), João, o apóstolo,
diz: "Amados,agora somos filhos de Deus" (1 João 3:2).
II. A NATUREZA DO HOMEM
1. A tri-unidade humana.
Segundo
Gên. 2:7, o homem se compõe de duas substâncias — a substância material,
chamada corpo, e a substância imaterial, chamada alma. A alma é a vida do corpo
e quando a alma se retira o corpo morre. Mas, segundo 1 Tess. 5:23 e Heb. 4:12,
o homem se compõe de três substâncias — espírito, alma e corpo; alguns
estudantes da bíblia defendem essa opinião de três partes da constituição
humana versus doutrina de duas partes apenas, adotada por outros. Ambas as
opiniões são corretas quando bem compreendidas. O espírito e a alma representam
os dois lados da substância não-física do homem; ou, em outras palavras, o
espírito e a alma representam os dois lados da natureza espiritual. Embora
distintos, o espírito e a alma são inseparáveis, são entrosados um no outro.
Por estarem tão interligados, as palavras "espírito" e
"alma" muitas vezes se confundem (Ecl. 12:7; Apoc. 6:9); de maneira
que em um trecho a substância espiritual do homem se descreve como a alma (Mat.
10:28), e em outra passagem como espírito (Tia. 2:26). Embora muitas vezes os
termos sejam usados alternativamente, têm significados distintos. Por exemplo:
"A alma" é o homem como o vemos em relação a esta vida atual. As
pessoas falecidas descrevem-se como "almas" quando o escritor se
refere à sua vida anterior. (Apoc. 6:9, 10; 20:4.) "O espírito" é a
descrição comum daqueles que passaram para a outra vida. (Atos 23:9; 7:59; Heb.
12:23; Luc. 23:46; 1 Ped. 3:19.) Quando alguém for "arrebatado"
temporariamente fora do corpo (2 Cor. 12:2) se descreve como "estando no
espírito".(Apoc. 4:2; 17:3.)
Sendo
o homem "espírito", é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão
com ele; sendo "alma", ele tem conhecimento de si próprio; sendo
"corpo", tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo. —
Scofield.
2. O espírito humano.
Habitando
a carne humana, existe o espírito dado por Deus em forma individual. (Num.
16:22; 27:16.) O Espírito foi formado pelo Criador na parte interna da natureza
do homem, capaz de renovação e desenvolvimento. (Sal. 51:10.) Esse espírito é o
centro e a fonte da vida humana; a alma possui e usa essa vida e lhe dá
expressão por meio do corpo. No princípio Deus soprou o espírito de vida no
corpo inanimado e o homem "foi feito alma vivente". Assim a alma é um
espírito encarnado, ou um espírito humano que recebe expressão mediante o
corpo. A combinação desses dois elementos constitui o homem em
"alma". A alma sobrevive à morte porque o espírito a dota de energia;
no entanto, a alma e o espírito são inseparáveis porque o espírito está
entrosado e confunde-se com a substância da alma. O espírito é aquilo que faz o
homem diferente de todas as demais coisas criadas. é dotado de vida humana (e
inteligência, Prov. 20:27; Jo 32:8) que se distingue da vida dos irracionais.
Os irracionais têm alma (Gên. 1:20, no original) mas não têm espírito. Em Ecl.
3:21 a referência trata aparentemente do princípio de vida, tanto no homem como
no irracional. Salomão registrou uma pergunta que fez quando se afastou de
Deus. Assim, dessemelhante dos homens, os irracionais não podem conhecer as
coisas de Deus (1 Cor. 2:11; 14:2; Efés. 1:17;4:23) e não podem ter relações
pessoais e responsáveis com ele. (João 4:24.) O espírito do homem, quando se
torna morada do Espírito de Deus (Rom. 8:16), é centro de adoração (João
4:23,24); de oração, cântico, bênção (1 Cor. 14:15), e de serviço (Rom. 1:9;
Fil. 1:27). O espírito humano, representando a natureza suprema do homem, rege
a qualidade de seu caráter. Aquilo que domina o espírito toma-se atributo de
seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem
um "espírito altivo". (Prov. 16:18.) Conforme as influências
respectivas que o dominem, um homem pode ter um espírito perverso (Isa. 19:14);
um espírito rebelde (Sal. 106:33); um espírito impaciente (Prov. 14:29); um
espírito perturbado (Gên.41:18); um espírito contrito e humilde (Isa. 57:15;
Mat. 5:3). Pode estar sob um espírito de servidão (Rom. 8:15), ou ser impelido
pelo espírito de inveja (Num.5:14). Assim é que o homem deve guardar o seu
espírito (Mal. 2:15), dominar o seu espírito (Prov. 16:32), pelo arrependimento
tornar-se um novo espírito (Ezeq. 18:31) e confiar em Deus para transformar o
seu espírito (Ezeq. 11:19). Quando as paixões vis exercerem o domínio e a
pessoa manifestar um espírito perverso, significa que a alma (a vida
egocêntrica ou vida natural) destronizou o espírito. O espírito lutou e perdeu.
O homem é vitima de seus sentimentos e apetites naturais; e é
"carnal". O espírito já não domina mais, e essa impotência se
descreve como um estado de morte. Dessa maneira há necessidade de receber um
espírito novo (Ezeq. 18:31; Sal. 51:10); e somente aquele que originalmente
soprou no corpo do homem o fôlego da vida poder soprar na alma do homem uma
nova vida espiritual — isto é, regenerá-lo. (João 3:8; 20:22; Gal. 3:10.)
Quando assim sucede, o espírito do homem novamente ocupa lugar de ascendência,
e chega a ser homem "espiritual". Entretanto, o espírito não pode
viver de si mesmo, mas deve buscar a renovação constante mediante o Espírito de
Deus.
3. A alma do homem.
(a) A
natureza da alma. A alma é aquele princípio inteligente e vivificante que anima
o corpo humano, usando os sentidos físicos como seus agentes na exploração das
coisas materiais e os órgãos do corpo para se expressar e comunicar-se com o
mundo exterior.
Originalmente
a alma veio a existir em resultado do sopro sobrenatural de Deus. Podemos
descrevê-la como espiritual e vivente, porque opera por meio do corpo. No
entanto, não devemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca. É
mais correto dizer que é dom e obra de Deus. (Zac. 12:1.)
Devem-se notar quatro distinções:
1. A alma distingue a vida humana e a vida dos irracionais
das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como a vegetal. Tanto os
homens como os irracionais possuem almas (em Gên. 1:20, a palavra
"vida" é "alma" no original). Poderíamos dizer que as
plantas têm alma (no sentido de um princípio de vida), mas não é uma alma
consciente.
2. A alma do homem o distingue dos irracionais. Estes
possuem alma, mas é alma terrena que vive somente enquanto durar o corpo. (Ecl.
3:21.) A alma do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito
humano. Como "toda carne não é a mesma carne", assim sucede com a
alma; existe alma humana e existe alma dos irracionais. Evidentemente, os
homens fazem o que os irracionais não podem fazer, por muito inteligentes que
sejam; a sua inteligência é de instinto e não proveniente de razão. Tanto os
homens como os irracionais constróem casas. Mas o homem progrediu, vindo a
construir catedrais, escolas e arranha-céus, enquanto os animais inferiores
constroem suas casas hoje da mesma maneira como as construíam quando Deus os
criou.
Os
irracionais podem guinchar (como o macaco), cantar (como o pássaro), falar
(como o papagaio); mas somente o homem produz a arte, a literatura, a música e
as invenções cientificas. O instinto dos animais pode manifestar a sabedoria do
seu Criador, mas somente o homem pode conhecer e adorar a seu Criador. Para
melhor ainda ilustrar o lugar elevado que ocupa o homem na escala da vida,
vamos observar os quatro degraus da vida, que se elevam em dignidade um sobre o
outro, conforme a independência sobre a matéria. Primeiro, a vida vegetal, que
necessita de órgãos materiais para assimilar o alimento; segundo, a vida
sensível, que usa os órgãos para perceber as coisas materiais e ter contato com
elas; terceiro, a vida intelectual, que percebe o significado das coisas pela
lógica, e não meramente pelos sentidos; quarto, a vida moral, que concerne à lei
e à conduta. Os animais são dotados de vida vegetativa e sensível; o homem é
dotado de vida vegetativa, sensível, intelectual e moral.
3. A alma distingue um homem de outro e dessa maneira forma
a base da individualidade. A palavra "alma" é, portanto, usada
freqüentemente no sentido de "pessoa". Em Êxo. 1:5 "setenta
almas" significa "setenta pessoas". Em Rom.13:1 "cada
alma" significa "cada pessoa". Atualmente dizemos, " não
havia nem uma alma presente", referindo-nos às pessoas.
4. A alma distingue o homem não somente das ordens
inferiores, mas também das ordens superiores dos anjos, porque estes não têm
corpos semelhantes aos dos homens. O homem tomou-se um "ser vivente",
quer dizer, a alma enche um corpo terreno sujeito às condições terrenas. Os
anjos se descrevem como espíritos (Heb. 1:14), porque não estão sujeitos às
condições ou limitações materiais. Por essa mesma razão se descreve Deus como
"Espírito". Mas os anjos são espíritos criados e finitos, enquanto
Deus é o Espírito eterno e infinito.
(b) A origem da alma. Sabemos que a
primeira alma veio a existir como resultado de Deus ter soprado no homem o
sopro de vida. Mas como chegaram a existir as almas desde esse tempo? Os
estudantes da Bíblia se dividem em dois grupos de idéias diferentes: (1) Um
grupo afirma que cada alma individual não vem proveniente dos pais, mas sim
pela criação Divina imediata. Citam as seguintes escrituras: Isa. 57:16; Ecl.
12:7; Heb. 12:9; Zac. 12:1 (2) Outros pensam que a alma é transmitida pelos
pais. Apontam o fato de que a transmissão da natureza pecaminosa de Adão à
posteridade milita contra a criação divina de cada alma; também o fato de que
as características dos pais se transmitem à descendência. Citam as seguintes
passagens: João 1:13; 3:6; Rom. 5:12; 1 Cor.15:22; Efés. 2:3; Heb. 7:10. A
origem da alma pode explicar-se pela cooperação tanto do Criador como dos pais.
No princípio duma nova vida, a Divina criação e o uso criativo de meios agem em
cooperação. O homem gera o homem em cooperação com "o Pai dos espíritos".
O poder de Deus domina e permeia o mundo (Atos 17:28; Heb. 1:3) de maneira que
todas as criaturas venham a ter existência segundo as leis que ele ordenou.
Portanto, os processos normais da reprodução humana põem em execução as leis da
vida fazendo com que a alma nasça no mundo.
A
origem de todas as formas de vida está encoberta por um véu de mistérios (Ecl.
11:5; Sal. 139:13-16; Jo 10:8-12), e esse fato deve servir de aviso contra a
especulação sobre as coisas que estão além dos limites das declarações
bíblicas.
(c) Alma e corpo. A relação da alma com o
corpo pode ser descrita e ilustrada da seguinte maneira:
1. A alma é a depositária da vida; ela figura em tudo que
pertence ao sustento, ao risco, e à perda da vida. É por isso que em muitos
casos a palavra "alma" tem sido traduzida "vida". (Vide
Gên. 9:5; 1 Reis 19:3; 2:23; Prov. 7:23; Êxo. 21:23,30; 30:12; Atos 15:26.) A
vida é o entrosamento do corpo com a alma. Quando a alma e o corpo se separam,
o corpo não existe mais; o que resta é apenas um grupo de partículas materiais
num estado de rápida decomposição.
2. A alma permeia e habita todas as partes do corpo e afeta
mais ou menos diretamente todos os seus membros. Este fato explica por que as
Escrituras atribuem sentimentos ao coração e aos rins (Sal. 73:21; Jo 16:13;
Lam. 3:13; Prov. 23:16; Sal. 16:7; Jer. 12:2; Jo. 38:36); às entranhas (File.
12; Jer. 4:19; Lam. 1:20; 2:11; Cânt. dos Cânt. 5:4; Isa. 16:11); e ao ventre
(Hab. 3:16; Jo 20:23; 15:35; João 7:38). Esta mesma verdade, de que a alma
permeia o corpo, explica porque em muitas passagens se descreve a alma
executando atos corporais. (Prov. 13:4; Isa. 32:6; Num. 21:4; Jer. 16:16;
Gên.44:30; Ezeq. 23:17, 22, 28.) "As partes internas" ou
"entranhas" é a expressão que geralmente descreve o entrosamento da
alma com o corpo. (Isa. 16:11; Sal. 51:6; Zac. 12:1; Isa. 26:9; 1 Reis 3:28.)
Essas passagens descrevem as partes internas como o centro dos sentimentos, de
experiência espiritual e de sabedoria. Mas notemos que não é o tecido material
que pensa e sente, e, sim a alma operando por meio dos tecidos. Corretamente
falando, não é o coração de carne, mas a alma, por meio do coração, que sente.
3. Por meio do corpo a alma recebe suas impressões do mundo
exterior. Essas impressões são percebidas por estes sentidos: vista, audição,
paladar, olfato e tato, e são transmitidas ao cérebro por via do sistema
nervoso. Por meio do cérebro a alma elabora essas impressões pelos processos do
intelecto, da razão, da memória e da imaginação. A alma atua sobre essas
impressões enviando ordens às várias partes do corpo por via do cérebro e do
sistema nervoso.
4. A alma estabelece contato com o mundo por meio do corpo,
que é o instrumento da alma. O sentir, o pensar, o exercer vontade e outros
atos, são todos eles atividades da alma ou do "eu". É o
"eu" que vê e não somente os olhos; é o "eu" que pensa e
não meramente o intelecto; é o "eu" que joga a bola e não meramente o
meu braço; é o "eu" que pede e não simplesmente a língua ou os
membros. Quando um membro é ferido, a alma não pode funcionar bem por meio
dele; em caso de lesão cerebral pode resultar a demência. A alma então passa a
ser como um músico com um instrumento danificado ou quebrado.
(d) A alma e o pecado. A alma vive a sua
vida natural através dos instintos, termo que vamos empregar por falta de outro
melhor. Esses instintos são forças motrizes da personalidade, com as quais o
Criador dotou o homem para fazê-lo apto a uma existência terrena (assim como o
dotou de faculdades espirituais para capacitá-lo a uma existência celestial).
Chamamo-los instintos porque são impulsos inatos, implantados na criatura a fim
de capacitá-la a fazer instintivamente o que é necessário para originar e preservar
a vida natural. Assim escreve o Dr. Leander Keyser: "Se no inicio de sua
vida o infante humano não tivesse certos instintos, não poderia sobreviver,
mesmo com o melhor cuidado paterno e médico." Vamos considerar os cinco
instintos mais importantes. O primeiro é o instinto da auto-preservação que nos
avisa de perigo e nos capacita a cuidar de nós mesmos. O segundo, é o instinto
de aquisição (conseguir), que nos conduz a adquirir as provisões para o
sustento próprio. O terceiro é o instinto da busca de alimento, o impulso que
leva a satisfazer a fome natural. O quarto é o instinto da reprodução que
conduz à perpetuação da espécie. O quinto é o instinto de domínio que conduz a
exercer certa iniciativa própria necessária para o desempenho da vocação e das responsabilidades.
O registro desses dotes (ou instintos) do homem concedidos pelo Criador acha-se
nos primeiros dois capítulos de Gênesis.
O
instinto de autopreservação implica a proibição e o aviso: "Mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás porque no dia em que dela
comeres certamente morrerás." O instinto de aquisição aparece no fato de
ter Adão recebido da mão de Deus o lindo jardim do Éden. O instinto da busca de
alimento percebe-se nas palavras: "Eis que vos tenho dado todas as ervas
que dão sementes, as quais se acham sobre a face de toda a terra, e todas as
árvores em que há fruto que dê semente ser-vos-á para alimento." Ao
instinto de reprodução referem-se estas declarações: "Homem e mulher os
criou." "Deus os abençoou e lhes disse: frutificai,
multiplicai-vos." Ao quinto instinto, domínio, refere-se o mandamento:
"Enchei a terra, e sujeitai-a; dominai.
"Deus
ordenou que as criaturas inferiores fossem governadas primeiramente pelos
instintos, mas o homem foi elevado à dignidade de possuir o dom de livre
arbítrio e a razão, com os quais poderia disciplinar-se a si mesmo e tornar-se
árbitro do seu próprio destino. Como guia para o regulamento das faculdades do
homem, Deus impôs uma lei. O entendimento do homem quanto a essa lei produziu
uma consciência, que significa literalmente "com conhecimento".
Quando o homem deu ouvidos à lei, teve a consciência esclarecida; quando
desobedeceu a Deus, sofreu, pois a consciência o acusava. No relato da tentação
(Gên. 3) lemos como o homem cedeu à concupiscência dos olhos, à cobiça da
carne, e à vaidade da vida. (1 João 2:16), e usou os seus poderes de modo
contrário à vontade de Deus. A alma consciente e voluntariamente, usou o corpo
para pecar contra Deus. Essa combinação de alma pecaminosa e corpo humano
constituem o que se conhece como "o corpo do pecado" (Rom. 6:6), ou
"a carne" (Gál. 5:24). A inclinação e desejo da alma para usar o
corpo dessa maneira se descreve como a "mente carnal" (Rom. 8:7).
Visto
que o homem pecou com o corpo, será julgado segundo "o que fez por meio do
corpo" (2 Cor. 5:10). Isso envolve uma ressurreição. (João 5:28, 29.)
Quando a "carne" é condenada, a referência não é ao corpo material (o
elemento material não pode pecar), mas ao corpo usado pela alma pecadora. É a
alma que peca. Ainda que a língua do difamador fosse cortada o difamador seria
o mesmo. Amputam-se as mãos do larápio, mas de coração ele ainda seria ladrão.
Os impulsos pecaminosos da alma devem ser extirpados; é essa a obra do Espírito
Santo. (Vide Col. 3:5; Rom. 8:13.) "A carne" pode ser definida como a
soma total dos instintos do homem, não como vieram das mãos do Criador, e, sim,
como são na realidade, pervertidos e feitos anormais pelo pecado. é a natureza
humana na sua condição decaída, enfraquecida e desorganizada pela herança
racial derivada de Adão e debilitada e pervertida por atos voluntários
pecaminosos. Ela representa a natureza humana não regenerada cujas fraquezas
frequentemente se escusam com estas palavras: "Afinal de contas a natureza
humana é assim mesmo." é a aberração desses instintos e faculdades dados
por Deus que forma a base do pecado. Por exemplo, o egoísmo, a irritabilidade,
a inveja, e a ira são aberrações do instinto da autopreservação. O roubo e a
cobiça são perversões do instinto de aquisição. "não furtarás" e
" não cobiçarás" querem dizer: "não perverterás o instinto de
aquisição. A glutonaria é a perversão do instinto de alimentação, portanto, é
pecado. A impureza é perversão do instinto de reprodução. A tirania, a
arrogância, a injustiça e a implicância representam abusos do instinto de
domínio. Assim vemos que o pecado, fundamentalmente, é o abuso ou a aberração
das forças com que Deus nos dotou. Notemos quais as conseqüências dessa
perversão: (1) a consciência culpada que diz ao homem que desonrou a seu
Criador, e avisa-o da pena terrível; (2) a perversão dos instintos reage sobre
a alma, debilitando a vontade, incitando e fortalecendo hábitos maus, e criando
deformações do caráter. Paulo fez um catálogo dos sintomas desses "defeitos"
da alma (uma palavra hebraica traduzida "pecado" significa
literalmente "tortuosidade" em Gál. 5:19-21). "Ora as obras da
carne são manifestas, as quais são: a fornicação, a impureza, a lascívia, a
idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as
facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e
outras coisas semelhantes." Paulo considerou tais coisas tão sérias que
acrescenta as palavras, "os que tais coisas praticam, não herdarão o reino
de Deus". Colocada sob o poder do pecado, a alma toma-se "morta em
delitos e pecados" (Efés. 2:1). Colocada entre o corpo e o espírito, entre
o mais elevado e o inferior, entre o terreno e o espiritual, a alma fez uma
escolha má. Mas da escolha não surgiu proveito, e, sim, perda eterna (Mat.
16:26). Foi feita a má "barganha" de Esaú — a troca da bênção
espiritual por uma coisa terrena e perecível. (Heb.12:16.) Ao morrer, a alma
ter que passar para o outro mundo, "manchada pela carne". (Jud. 23.)
Felizmente existe um remédio — a cura dupla, tanto para a culpa como para o
poder do pecado, (1) Porque o pecado é uma ofensa a Deus, é exigida uma
expiação para remover a culpa e purificar a consciência. A provisão do
Evangelho é o sangue de Jesus Cristo. (2) Visto que o pecado traz doença à alma
e desordem no ser humano, requere-se um poder curativo e corretivo. Esse poder
é justamente aquele provido pela operação interna do Espírito Santo que
endireita as coisas tortas da nossa natureza e põe em movimento certo as forças
da nossa vida. Os resultados (os frutos) são "amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança"
(Gál. 5:22, 23). Em outras palavras, O Espírito Santo faz-nos justos, palavra
que no hebraico significa "reto". O pecado é tortuosidade da alma; a
justiça é sua retidão.
(e) A alma e o coração. Tanto nas
Escrituras, como na linguagem comum, a palavra "coração" significa o
centro mesmo duma coisa. (Deut. 4:11; Mat. 12:40 Êxo. 15:8; Sal. 46:2; Ezeq.
27:4,25,26,27.) O "coração" do homem é, portanto, o verdadeiro centro
da sua personalidade. É o centro da vida física. Nas palavras do Dr. Beck:
"O coração é a primeira coisa a viver, e seu primeiro movimento é sinal
seguro de vida; seu silêncio é sinal positivo de morte." é também a fonte
e o lugar onde se encontram as correntes da vida espiritual e da alma. Podemos
descrevê-lo como a parte mais profunda do nosso ser, a "casa das
máquinas", por assim dizer, da personalidade, donde procedem os impulsos
que determinam o caráter e a conduta do homem.
1. O coração é centro da vida, do desejo, da vontade e do
juízo. O amor, o ódio, a determinação, a vontade e o gozo (Sal. 105:3) unem-se
com o coração. O coração sabe, compreende (1 Reis 3:9), delibera, calcula; está
disposto, é dirigido, presta atenção, e inclina-se para as coisas. Tudo o que
impressiona a alma se diz estar fixado, estabelecido, ou escrito no coração. O
coração é o depósito de tudo quanto se ouve ou se experimenta (Lu. 2:51). O
coração é a "fábrica", por assim dizer, em que se formam pensamentos
e propósitos, sejam bons ou maus. (Vide Sal.14:1; Mat. 9:4; l Cor. 7:37; 1Reis
8:17.)
2. O coração é o centro da vida emocional. Ao coração
atribuem-se todos os graus de gozo, desde o prazer, (Isa. 65:14) até ao êxtase
e exultação (Atos 2:46); todos os graus de dor, desde o descontentamento (Prov.
25:20) e a tristeza (Joao14:1) até ao "ai" lacerante e esmagador
(Sal. 109:22; Atos 21:13); todos os graus de má vontade desde a provocação e
ira (Prov. 23:17) até à cólera incontrolável (Atos 7:54) e o desejo vingativo
ardente (Deut. 19:6); todos os graus de temor desde o tremor reverente (Jer.
32:40) até ao pavor (Deut. 28:28). O coração derrete-se e se retorce em
angústia (Jos. 5:1); torna-se fraco pela depressão (Lev. 26:36); murcha sob o
peso da tristeza (Sal. 102:4); quebra-se e fica esmagado pela adversidade (Sal.
147:3), é consumido por um ardor sagrado (Jer.20:9).
3. O coração é o centro da vida moral. Concentrado no
coração pode haver o amor de Deus (Sal. 73:26) ou o orgulho blasfemo (Ezeq.
28:2, 5). O coração é a"oficina" de tudo quanto é bom ou mau nos
pensamentos, nas palavras ou nas ações. (Mat. 15:19.) É onde se reúnem todos os
impulsos bons ou as cobiças más; é a sede dum tesouro bom ou ruim. Do que tiver
em abundância ele fala e opera.(Mat. 12:34, 35.) É o lugar onde originalmente
foi escrita a lei de Deus (Rom.2:15), e onde a mesma lei é renovada pela
operação do Espírito Santo. (Heb.8:10.) É sede da consciência (Heb. 10:22) e a
ele atribuem-se todos os testemunhos da consciência, (1 João 3:19-21.) Com o
coração o homem crê (Rom. 10:10) ou descrê (Heb. 3:12). É campo onde se semeia
a Palavra divina (Mat. 13:19).Segundo as suas decisões, está sob a inspiração
de Deus (2 Cor. 8:16) ou de Satanás (João 13:2). É a morada de Cristo (Efés.
3:17) e do Espírito (2 Cor. 1:22); da paz de Deus (Col. 3:15). é o receptáculo
do amor de Deus (Rom. 5:5), o lugar da aurora celestial (2 Cor. 4:6), a câmara
da comunhão secreta com Deus (Efés.5:19). É uma grande profundidade misteriosa
que somente Deus pode sondar. (Jer. 17:9.) Foi em vista das imensas
possibilidades implícitas no coração do homem que Salomão proferiu esta
admoestação: "Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele
procedem as fontes da vida" (Prov. 4:23).
(f) A alma e o sangue. "Porque a
vida (literalmente "alma") da carne está no sangue" (Lev.
17:11). As Escrituras ensinam que, tanto no homem como no irracional, o sangue
é a fonte e o depositário da vida física. (Lev. 17:11; 3:17; Deut. 12:23; Lam.
2:12; Gên. 4:10; Heb. 12:24; Jo 24:12; Apoc. 6:9,10; Jer. 2:34; Prov. 28:17.)
Vamos citar as palavras de Harvey, médico inglês, descobridor da circulação do
sangue: "é o primeiro órgão a viver e o último a morrer; é a sede
principal da alma. Ele vive e nutre-se de si mesmo, e por nenhuma outra parte
do corpo." Em Atos 17:26 e João 1:13 o sangue se apresenta como a matéria
original de onde surge o organismo humano. Usando o coração como bomba, e o
sangue como meio da vida, a alma envia vitalidade e nutrição a todas as partes
do corpo.O lugar que a criatura ocupa na escala da vida determina o valor do
seu respectivo sangue. Primeiro vem o sangue dos animais; porém de valor maior
é o sangue do homem, porque o homem tem a imagem de Deus. (Gên. 9:6). De estima
especial é o sangue dos inocentes e dos mártires. (Gên. 4:10; Mat. 23:35.) O
mais precioso de todos é o sangue de Cristo (1 Pedro 1:19; Heb. 9:12), de valor
infinito por estar unido com a Divindade. Pelo plano benigno de Deus, o sangue
tomou-se o meio de expiação, quando aspergido sobre o altar de Deus. "Pelo
que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas;
porquanto é o sangue que fará expiação pela alma" (Lev. 17:11).
4. O corpo humano.
Os
seguintes nomes aplicam-se ao corpo:
(a) casa, ou tabernáculo. (2 Cor. 5:1.) é
a tenda na qual a alma do homem, qual peregrina, mora durante sua viagem do
tempo para a eternidade. À morte, desarma-se a barraca e a alma parte. (Vide
Isa. 38:12: 2 Ped. 1:13, 14.)
(b) Invólucro. (Dan. 7:15). O corpo é a
"bainha"da alma. A morte é o desembainhar a espada.
(c) Templo. O templo é um lugar
consagrado pela presença de Deus — um lugar onde a onipresença de Deus é
localizada, (1 Reis 8:27, 28.) O corpo de Cristo foi um "templo"
(João 2:21) porque Deus estava nele. (2 Cor. 5:19.) Quando Deus entra em
relação espiritual com uma pessoa, o corpo dessa pessoa toma-se um templo do
Espírito Santo. (1 Cor. 6:19.) Os filósofos pagãos falavam do corpo com
desprezo; consideravam-no um estorvo à alma, e almejavam o dia quando a alma estaria
livre das suas complicadas e enredosas roupagens. Mas as Escrituras em toda
parte tratam o corpo como obra de Deus, a ser apresentado a Deus (Rom. 12:1),
usado para a gloria de Deus (1 Cor. 6:20). Por que, por exemplo, contém o livro
de Levítico tantas leis governando a vida física dos israelitas? Para
ensiná-los que o corpo, como instrumento da alma, deve conservar-se forte e
santo. É verdade que este corpo é terreno (1 Cor. 15:47) e como tal um corpo de
humilhação (Fil. 3:21), sujeito às enfermidades e à morte (1 Cor. 15:53), de
maneira que gememos por um corpo celestial (2 Cor. 5:2). Mas à vinda de Cristo,
o mesmo poder que vivificou a alma transformará o corpo, assim completando a
redenção do homem. E o penhor dessa mudança é o Espírito que nele habita.
(2Cor. 5:5; Rom. 8:11.)
III. A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM
"Façamos
o homem … nossa imagem, conforme a nossa semelhança." (Vide Gên. 5:1; 9:6;
Ecl. 7:29; Atos 17:26,28,29; 1 Cor. 11:7; 2 Cor. 3:18; 4:4; Efés. 4:24; Col.
1:15; 3:10; Tia. 3:9; Isa. 43:7; Efés. 2:10.) O homem foi criado à semelhança
de Deus, foi feito como Deus em caráter e personalidade. E em todas as
Escrituras o ideal e alvo exposto diante do homem é o de ser semelhante a Deus.
(Lev. 19:2; Mat. 5:45-48; Efés. 5:1.) E ser como Deus significa ser como
Cristo, que é a imagem do Deus invisível.
Consideremos
alguns dos elementos que constituem a imagem divina no homem:
1. Parentesco com Deus.
A
relação de Deus com as primeiras criaturas viventes consistia em essas, de
maneira inflexível, obedecerem aos instintos implantados pelo Criador; mas a
vida que inspirou ao homem foi resultado verdadeiro da personalidade de Deus. O
homem, na verdade, tem um corpo feito do pó da terra, mas Deus soprou nas
narinas o sopro da vida (Gên. 2:7); dessa maneira dotou-o de uma natureza capaz
de conhecer, amar e servir a Deus.
Por
causa dessa imagem divina todos os homens são, por criação, filhos de Deus.
Mas, desde que essa imagem foi manchada pelo pecado, os homens devem ser
recriados ou nascidos de novo (Efés. 4:24) para que sejam em realidade filhos
de Deus.Um erudito da língua grega aponta o fato de uma das palavras gregas
traduzidas por "homem" (anthropos) ser uma combinação de palavras
significando literalmente "aquele que olha para cima". O homem é
criatura de oração, e há ocasião na vida dos mais perversos quando eles invocam
a algum Poder Supremo para socorrê-los. O homem pode não entender a grandeza da
sua dignidade, e assim se tornar semelhante aos irracionais que perecem (Sal.
49:20), mas ele não é irracional. Mesmo na sua degradação, o homem é testemunha
da sua origem nobre, pois o animal não pode degradar-se. Por exemplo, ninguém
pensaria em ordenar a um tigre dizendo: "Sê tigre!" Ele sempre foi e
sempre ser tigre! Mas a ordem, "Sê homem", leva um verdadeiro
significado àquele que se degradou. Por mais que se tenha o homem degradado,
ainda ele reconhece que deveria estar em plano mais elevado.
2. Caráter moral.
O
reconhecimento do bem e do mal pertence somente ao homem. A um animal pode-se
ensinar a não fazer certas coisas, mas é porque essas coisas são contrárias à
vontade do dono e não porque o animal saiba que estas coisas são sempre
corretas e outras sempre erradas. Em outras palavras, os animais não possuem
natureza religiosa ou moral; não são capazes de ser instruídos nas verdades
concernentes a Deus e à moralidade. Assim escreve um grande naturalista:
Concordo plenamente com a opinião dos escritores que asseguram ser o sentido
moral, ou seja, a consciência, a mais importante de todas as diferenças entre o
homem e os animais inferiores. Esse sentido está resumido naquele curto mas
imperioso "deve", tão cheio de significação. É o mais nobre de todos os
atributos do homem.
3. Razão.
O
animal é meramente uma criatura da natureza; o homem é senhor da natureza. Ele
é capaz de refletir sobre si próprio e arrazoar a respeito das causas das
coisas. Pensem nas invenções maravilhosas que surgiram da mente do homem — o
relógio, o microscópio, o vapor, o telégrafo, o rádio, a máquina de somar, e
outras numerosas demais para se mencionar. Olhem a civilização construída pelas
diversas artes. Considerem os livros que foram escritos, a poesia e a música
que foram compostas. E então adorem ao Criador por esse dom maravilhoso da
razão! A tragédia da história é esta: que o homem tem usado esse dom para
propósitos destrutivos, até mesmo para negar o Criador que o fez uma criatura
pensante.
4. Capacidade para a imortalidade.
A
existência da árvore da vida no Jardim do Éden indica que o homem nunca teria
morrido se não tivesse desobedecido a Deus. Cristo veio ao mundo para colocar a
Alimento da Vida ao nosso alcance, para que não pereçamos, mas vivamos para
sempre.
5. Domínio sobre a terra.
O
homem foi designado para ser a imagem de Deus com respeito à soberania; e como
ninguém pode ser monarca sem súditos e sem reino, Deus deu-lhe tanto um
"império" como um "povo". Deus os abençoou, e lhes disse:
"Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam
sobre a terra" (Gên. 2:28.Vide Sal. 8:5-8.) Em virtude dos poderes
implícitos em ser o homem formado à imagem de Deus, todos os seres viventes
sobre a terra estavam entregues na sua mão. Ele devia ser o representante
visível de Deus em relação às criaturas que o rodeavam. O homem tem enchido a
terra com as suas produções. É um privilégio especial do homem subjugar o poder
da natureza à sua própria vontade. Ele, o homem, obrigou o relâmpago a ser o
seu mensageiro, tem circundado o globo, subido até às nuvens e penetrado as
profundezas do mar. Ele tem jogado as forças da natureza umas contra as outras,
mandando os ventos ajudá-lo em enfrentar o mar. Se é tão maravilhoso o domínio
do homem sobre a natureza externa e inanimada, mais maravilhoso ainda é o seu
domínio sobre a natureza animada. Vejam o falcão treinado derribar a presa aos
pés do seu dono e voltar quando os grandes espaços o convidam à liberdade;
vejam o cão usar a sua velocidade a serviço do dono, tomar a presa que não será
sua; vejam o camelo transportar o homem através do deserto, sua própria
habitação. Todos eles mostram a capacidade criadora do homem e a sua semelhança
com Deus o Criador. A queda do homem resultou na perda e no desfiguramento da
imagem divina. Isto não quer dizer que os poderes mentais e psíquicos (a alma)
foram perdidos; mas que a inocência original e a integridade moral, nas quais
foi criado, foram perdidas por sua desobediência. Portanto, o homem é
absolutamente incapaz de salvar-se a si mesmo e está sem esperança, a não ser
por um ato de graça que lhe restaure a imagem divina.Este assunto será tratado
mais detalhadamente no capítulo seguinte.
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