Vocação Pastoral no Brasil de Hoje Palestra: Desafios no Ministério Pastoral no Brasil de Hoje


Por: Jorge Schütz Dias

A proposta para esta reflexão contém os seguintes delimitadores:
A reflexão sobre o Ministério Pastoral no Brasil de Hoje é urgente. Os conceitos que permeiam a vida pastoral vêm expressando a necessidade de uma revitalização na prática pastoral, com destaque na dimensão profética. A palestra abordará perguntas tais como: 
Como ser pastor (a) nos dias de hoje?
Como orientar nossas comunidades sobre sua vocação e o acompanhamento para quem se sente vocacionado para o ministério pastoral. A ementa como exposta sugere o conteúdo programático de uma disciplina em faculdade de teologia para um semestre, por esta razão procuro circunscrever a abordagem dentro das seguintes limites:
1) Uma aproximação do tema a partir de pontuações históricas.
2) A urbanização como um referencial a exigir a criação de novos caminhos de
abordagem do ministério pastoral.
3) Algumas pistas para continuadas reflexões sobre o ministério pastoral.

O conjunto de questões que se pretender responder é o seguinte: - Que de ministério pastoral há hoje na igreja no Brasil? E quais são as questões subsequentes que dele derivam são? – Estes modelos foram desenvolvidos intencionalmente, premeditados e produto de uma reflexão? Ou, ainda, meramente transportados de realidades diferentes e aqui implantados? Caso a resposta a primeira questão seja afirmativa – os modelos são refletidos a partir daqui – cabe questionar se eles vem sendo readaptados às novas questões urgentes do mundo contemporâneo. Caso a resposta seja sim ao segundo questionamento, cabe levantar-se a hipótese se de fato não é o momento de uma reflexão indígena, nacional acerca dos limites em que se deve desenvolver o ministério hoje, num formato brasileiro, nacional. Na perspectiva de responder sobre os modelos de ministério pastoral hoje, transportados ou indígenas, contornamos a questão delimitando a pesquisa em dois momentos: o primeiro, quando no Brasil se despertou para o processo de urbanização; e o segundo, num salto para década de 1980, ao tempo em que as inovações tecnológicas, tais como a Internet, colocaram o Brasil na esteira da globalização. E, neste, no cenário religioso os movimentos e pentecostal e neopentecostal consolidam sua marca na transição da religião tradicional para uma religião de mercado, conforme aponta o Prof. Dr. Leonildo Campos. As configurações por ele apontadas de teatro, templo e mercado naquele contexto, sinalizaram o surgimento de novos modelos de ministério e ação pastoral. Na busca de uma retomada da linha histórica, Emile Leonard afirma que dois pontos essenciais governavam os movimentos de missão do século 19, o primeiro, em relação ao Brasil, que todos aqui eram pagãos e careciam da conversão. O segundo,a que os modelos assumidos pelas diferentes missões se assemelhavam umas às outras, ou seja a implantação de comunidades novas, mas segundo modelo anglo-saxão. Na seqüência dos movimentos missionários, a partir do mais remoto se faz referência ao Dr. Robert Reid Kalley e esposa, missionários escoceses autônomos que chegaram ao Rio de Janeiro em 1855, sendo referido por Mendonça como pioneiro do protestantismo, que embora vindo da ilha da Madeira, trazia consigo o modelo de teologia norte-americana. Depois chegaram os Presbiterianos em 1859 com o missionário norteamericano Ashbel Green Simonton no Rio de Janeiro. Os metodistas, segundo Mendonça, fizeram primeira tentativa em 18363, que foi frustrada. Aportaram no Brasil definitivamente em 1867 com os missionários Junius E. Newman, John J. Ranson, J. W. Koger e James L. Kennedy.. Os batistas chegaram ao Brasil em 1881 e fundaram a primeira igreja em 1882 pelas mãos de dois casais Willian Bagby e esposa, e Zacharias Taylor e esposa. A Igreja Episcopal chegou tardiamente, em 1898, a partir do Rio Grande do Sul. Neste histórico, onde são pontuadas as datas de chegada dos missionários ao Brasil tem a finalidade apontar somente que o desenho do ministério pastoral tem forte influência norte-americana em sua mais remota instalação no Brasil. Mesmo que se identifique o ex-padre José Manoel da Conceição como o primeiro pastor protestante brasileiro em atividade, especialmente em São Paulo, é natural admitir-se que sua postura seguia os modelos transportados da outra América para o Brasil. Estes modelos e práticas pastorais têm sido objeto de pesquisa no GETEP, Grupo de Pesquisa em Teologia Prática no Contexto Brasileiro, e alguns resumos encontram-se disponibilizados no site e podem ser acessados no endereço:(www.getep.gro.com.br). As igrejas batistas e presbiterianas em suas respectivas implantações seguiram caminhos opostos: a batista no Brasil, segundo Mendonça, se deu principalmente em centros urbanos; a presbiteriana que seguiu sua expansão segundo a rota do plantio de café na Província de São Paulo. Entretanto tal identificação dos batistas como sendo igrejas de traços urbanos, não é condição suficiente para que se entenda que o ministério pastoral praticados pelos seus líderes nessas comunidades tenha sido adaptados a tais condições de urbanidade. Na verdade, a tradição batista não tem desenvolvido uma figura madura do que seja efetivamente o ministério pastoral, tendo em vista que sua preocupação expansionista e conversionista centraram-se na formação e fundação congregações, futura igrejas. 

Isto se reflete em seus documentos contemporâneos que retratam o seguinte:
(...) As ordenanças da Igreja são: batismo e ceia. São símbolos, mas sua observância envolvem a fé, exame de consciência, discernimento, gratidão e comunhão)...) O batismo é administrado pela Igreja sob a forma de imersão. Como se vê, o centro é a igreja, não o ministério pastoral, ainda que no imaginário denominacional batista se entenda que somente pastores (sexo masculino) estejam habilitados a celebrar ceia e batizar, e mesmo isto não está explícito tacitamente como norma de conduta ministerial. O Metodismo, cuja matriz teológica é o pensamento de João Wesley, seguiu a tradição arminiana de uma pregação conversionista e individual aos moldes dos avivamentos da Inglaterra e Estados Unidos. A expansão do metodismo teve como esteira sua preocupação com a educação, e por este viés procurou influenciar a sociedade fundando colégios para atender principalmente a classe burguesa em zonas cafeeiras. Tendo em vista a inclinação do metodismo na direção da educação, e sua matriz teológica centrada na conversão e santificação, respaldada historicamente pela Igreja Anglicana, esposou uma teologia não dogmatizada, o que permitiu aos seus bispos e pastores maior liberdade teológica de expressão em questões de teologia e política, e o resultado disto foi que a igreja não se ocupou em elaborar um modelo de ministério pastoral padrão, único, deixando seus líderes livres nesta constituição de modelos.
Na busca de sinais ao longo da história no sentido de identificar a matriz dos modelos pastorais praticados pelo segmento protestante, e o que se encontrou é que todos são, praticamente, oriundos de uma mesma origem. Também se reconheceu que os batistas, por sua preocupação com a fundação de igrejas, não elaboraram um modelo de ministério pastoral. Por outro lado, os metodistas, focados na educação, permitiram aos seus pastores e pastoras a construção de modelos ministeriais mais abertos. Acerca dos presbiterianos pode-se pontuar que, embora tenham ordenado o primeiro pastor brasileiro ao ministério, o modelo não se alterou.

A urbanização 
Algumas pontuações acerca do fenômeno da urbanização, tendo a cidade de São Paulo como referência.
Em 1895 a cidade de São Paulo contava com 130 mil habitantes. Em 1900 a população havia dobrado e chegado à casa do 240 mil 8 , isto em apenas cinco anos. O cultivo do café, sua expansão e comercialização detonaram uma onde de aglomeração na cidade, e por outro lado, a interiorização de centenas de pessoas que buscavam trabalho nas zonas de produção.
Neste momento o capital e a produção se distanciaram, pois os grandes investidores procuraram na cidade o conforto, e os produtores amargaram a vida rústica e limitada do campo. A concentração de pessoas gerou uma quantidade de serviços para atender o bem comum. Serviços que por um tempo podiam ser administrados diretamente, mas à medida que a população se multiplicava, surgiam os problemas gerados pela busca do emprego e da renda, melhor qualidade de vida com espaços adequados nas habitações, bem como, serviços de saneamento, energia e segurança, e a violência contra os bens e pessoas se multiplicou, e a falta de escolas para oferecer aos cidadãos acesso à educação deu início à formação massa de excluídos.

Libânio assim se expressa sobre a cidade:
A cidade é uma teia de aranha tanto no seu interior como as suas conexões com outras cidades. Simboliza grande obra construtora do ser humano revelando sua verdadeira natureza social. Quando o ser humano deixa sua vida nômade de coletor e caçador, já não consegue superar as limitações da natureza, sedentariza-se, construindo cidades.(...) É a luta entre o urbano e o rural, cultura e natureza, obra do homem (cidade) e criação de Deus (natureza) (...) as cidades estão na origem das grandes revoluções(...).
Considerando-se que a cidade é este emaranhado complexo é necessário que a Igreja procure aproximar-se dela visando encontrar ali o mistério da vida de seres humanos, com suas esperanças e desilusões, e oferecer-lhes uma mensagem do Evangelho capaz de responder aos seus anseios. Para tanto são necessários homens e mulheres capacitados para este novo tempo, recompostos para viver, não junto à natureza criada por Deus, mas junto a homens criados à imagem e segundo a natureza deste mesmo Deus.
A igreja católica, neste aspecto, antecipou-se aos movimentos protestantes e começo a construir sua ação e a treinar seus párocos para o atendimento ao homem urbano, e fez isto por meio dos Planos Pastorais, dos quais se faz referências a alguns, especificamente em São Paulo: I Plano Pastoral (1976) enfocando os direitos do trabalho, dos marginalizados e dos residentes nas periferias. III Plano Pastoral (1981), que enfoca as comunidades eclesiais de base, mais favorável ao atendimento aos pobres. VI Plano Pastoral (1991), propõe caminhos para igreja em ação missionária na cidade, num programa de evangelização de jovens, voltado também para ações em prol da paz, contra violência, e em defesa de saúde e moradia para os cidadãos. É necessário que se aponte, como advertência, o fator de risco para igreja urbana o estabelecimento de um diálogo com o cidadão na tentativa de reconfigurar sua presença e atuação na cidade. A igreja precisará mudar. 
Líbânio oferece como caminho para este diálogo a busca pela participação mais efetiva dos leigos, em lugar da ênfase no clérigo. Se por este lado Líbânio vê que a hierarquia da igreja oferece resistência para a sua macha e contextualização, por outro lado, Cunha ao analisar o Plano Vida e Missão da Igreja Metodista (1987-1997), reconhece que as igrejas históricas ou de missão, hoje encontram no complexo urbano um fenômeno religioso próprio da cidade, que são as comunidade formadas na linha pentecostal e neopentescoal, que de alguma forma põem em cheque qualquer outra expressão fé. Nelson comenta que a migração do homem do campo para os centros urbanos fez com que ele se adaptasse a um espaço novo, mas seu imaginário permanece no campo e nas forças da natureza. Ao chegar à cidade, em busca de sentido para esse momento, encontra nas igrejas pentecostais que adotam o modelo de administração e de celebração à semelhança do compadrio, do coronel dono de fazenda, a eles se submetem. A partir desta perspectiva sociológica Nelson indica que o crescimento das igrejas de linha pentecostal são meramente sub produto do homem do campo que se torna urbano. As considerações acima expostas acerca da urbanização podem induzir à conclusão apressada de que basta uma mudança administrativa das igrejas históricas, ou seja, sair de um modelo de administração burocrática e hierarquizada, que logo surgirá o novo modelo de pastor ou pastora que se requer para hoje. Provavelmente não, como se abordará no espaço a seguir.

No paradigma
A elaboração de um novo paradigma para o ministério pastoral, além de levar em conta a questão da urbanização, deverá considerar as profundas transformações ocorridas no Brasil nos últimos vinte anos (1984-2004) que são: eleição para presidente da república por meio de voto popular e democrático; acesso a instrumentos e tecnologias que viabilizam as comunicações como aparelhos de fax e telefonia celular; a revolução digital que introduziu no mercado de consumo a tecnologia dos CDs, dispositivos para gravação de som e imagem com alta definição de imagem e alta fidelidade na reprodução de som.
Porem, de todos estes, o destacável é a avanço da comunicação global por meio da Internet. Esta vem revolucionando a comunicação mundial e suas conseqüências positivas ou negativas para a vida do homem não podem ainda ser dimensionada.

Internet:
Às vezes fico aborrecido porque um sinal de transito perto do meu escritório sempre fica vermelho por mais tempo que acho necessário Eu poderia escrever uma carta para a prefeitura, dizendo isto ao pessoal que programa os sinais dizendo que o tempo daquele precisa se r melhorado, mas seria uma queixa esquisita (...) Mas se eu achasse alguém que poderia subscrever minha mensagem seria mais fácil lutar contra a prefeitura. À medida que as comunidades on-line crescerem em importância, mais elas se transformarão em pólos de opinião. As pessoas gostam de saber o que é popular, os filmes os amigos (...) ler as primeiras páginas dos jornais. (...) logo logo haverá todos os tipos de “hot lists” com lugares mais legais, visitados e freqüentados em rede por todos. Pontua-se que se oferecem como desafio ao ministério pastoral hoje as seguintes questões:
1) A tradição das igrejas de missão que cuidaram tão somente de transplantar modelos de práticas ministeriais da outra América para o Brasil.
2) O fenômeno da urbanização que notadamente surpreendeu os protestantes de linha conservadora que, não seguindo os rumos das pastorais propostos pela Igreja Católica, fixaram-se em manter a todo custo seus modelos de igrejas, desafiados que foram pelo surgimento, expansão e crítica das igrejas de linha pentecostal e neopentecostal, que atendem no complexo urbano o homem emigrado do campo para a cidade com um modelo administrativo do compadrio rural.
3) As profundas transformações ocorridas no Brasil nas últimas duas décadas, em especial a implantação e expansão da Internet como meio global de comunicação, que vem afetando os nichos, as aldeias forjando a
possibilidade de uma aldeia global, a partir de um computador pessoal doméstico.
4) A ascensão do Partido dos Trabalhadores e a eleição de Lula para presidente alimentaram a alma brasileira de um novo vigor, e ofereceu um novo espectro de futuro promissor aos brasileiros, os chamados brasileiros “consciente e participativos”. Desabrochados sob o discurso do sindicalista “Companheiro Lula”, que disse: as reformas que o trabalhador pretende, terá de fazê-las, em desafio à elite cultural e econômica do Brasil.
5) O espaço cada vez mais amplo que a mulher vem ocupando nos diferentes segmentos sociais, não só se mobilizando pelo direito à voz, mas se notabilizado por ações concretas. Faço referência a esta presença minha dissertação de mestrado sob o tema: Igreja sem Fronteiras, Fronteiras sem Igreja, apontando que a contribuição da mulher na manutenção da família saiu da posição de co-particação na renda familiar, para a posição de sustentadora principal. Os números apontam que em 1991 20,7% das mulheres eram chefes de família, em 1996, o número saltou para 24,3%. Em números absolutos, na região do Jabaquara, em 1996, 15.429 mulheres sustentavam suas respectivas famílias. Aqui me debruço afim de parabenizar a Igreja Metodista pelos 30 anos de Ministério Pastoral Feminino, e reconhecer que as igrejas de tradição batista ainda caminham a passos lentos nesta perspectiva. Mas ela não poderá sustentar-se por muito tempo. E justifico: há clamores que partem, não de liderança oficial da igreja, mas da periferia, das massas das pequenas igrejas, dos obreiros e obreiros da periferia a exigir um espaço melhor definido para mulher no ministério pastoral. E sabe-se que, ao longo da história, a revolução não parte da ordem instituída, mas da conscientização e ação organizada da massa. E isto já acontece entre os batistas, aqui e ali. Tais elementos elencados sinalizam que a igreja hoje tem diante de si o desafio de promover encontros, simpósios, fóruns, congressos, consultas teológicas para discernir novos rumos para uma nova eclesiologia, uma nova configuração de ministério pastoral, um novo modelo litúrgico e de gestão, que sejam capazes se adequar às constantes mudanças ao seu redor. A questão que ainda se mantém viva diante de nós é o modelo de ministério pastoral a partir de igrejas histórias e de missão, capaz de responder a esta complexidade em que se mergulha a sociedade hoje. Sob o tema de encaminhamentos finais, apontam-se quatro contornos para reflexão, visando sugerir caminhos para revitalização e remodelação do ministério pastoral contemporâneo.

1. Fundamento de Wesley 
A negação de si mesmo é tema de sermão proferido por Wesley, tendo por base o texto de Lucas 9, 23 onde o pregador argumenta que a pertinência do apelo de Cristo transcende aos limites geográficos, étnicos e culturais, e alcança a todos e todas em qualquer lugar, que queiram seguir a Cristo. O que não é possível sem a negação de si mesmo. Conservam-se na condição de discípulos, declara Wesley, aqueles que seguem a Cristo carregando a sua cruz, não somente seguindo, e assim expõe: É por esta razão que, em quase todas as épocas e nações em especial depois que a Igreja, depurada de inovações e corrupções, nelas recaiu gradualmente, tantos ministros têm escrito e falado tão largamente acerca deste importante dever, tanto em público como em exortações particulares. Isso os levou a espalhar tratados sobre o assunto, alguns em nosso país. Eles sabe, tanto pelos oráculos de Deus como pelo testemunho de sua própria experiência, quão impossível será deixarmos de negar nosso Mestre, a não ser que nos neguemos a nós mesmos; quão vamente tentamos seguir Aquele que foi crucificado, sem que diariamente tomemos nossa própria cruz.”

2. Olhar pastoral sobre as pessoas. 
Silva destacando as práticas pastorais na Bíblia, e encontra no Ser divino a face do Deus-Pastor, que se revela em cuidado, assistência e proteção ao rebanho figurado no povo de Israel. Nesta perspectiva, comentando Bhighenti acerca da globalização, Silva pontua o individualismo como marca da cultura moderna, e o individualismo se expressa no individualismo do ser humano, que se volta ao materialismo, no hedonismo,na permissividade, no relativismo, no consumismo e na revolução sem finalidade. A partir deste quadro de caos, a direção na confecção de um novo modelo de ministério pastoral pode ser vista em Jesus-Pastor retratado no Evangelho de João, a saber:
a) Capacidade para viabilizar o ingresso de pessoas na comunidade, num exercício contínuo de acolhimento.
b) Auxiliar pessoas a restaurar processos de relacionamento pautados em expressões de amor e compromisso mútuo.
c) A prática de um discurso aglutinador, que sirva de referência ao próximo e o induza a seguir um caminho de liberdade.
d) A disposição do pastor em dedicar e empreender o consumo de sua vida no serviço à comunidade, tendo como símbolo desta dedicação e entrega a celebração junto á mesa eucarística.

3. Reimplantar a igreja a partir da visão trinitária de Deus. 
As igrejas históricas ou de missão se implantam no Brasil na esteira dos avivamentos na Europa e Estados Unidos no final do século XIX, e a expansão missionária em busca dos pagãos delimitou o evangelho à uma pregação conversionista. O conceito de Missio Dei, como expressão de um conteúdo de fazer a missão, consolidou-se a partir do reconhecimento de que Deus Pai, Deus filho e Deus Espírito Santo como agentes solidários na missão pretendendo a implantação do Reino de Deus na terra. Nesta perspectiva a igreja deixa de ser o centro da missão e passa ser agente temporário, instrumento dela. Bosch21 aponta cinco compreensões sobre a Igreja nesta nova concepção, a saber:

a) A igreja deve estar sempre consciente de seu caráter provisório
b) A igreja, na terra, é germe do reino de Deus. Não é o Reino.
c) A Igreja é um acontecimento de convergência de âmbito mundial do povo de Deus.
d) A Igreja é um movimento do Espírito Santo rumo ao mundo e ao futuro.
e) A igreja congrega pessoas do reino de Deus, tais pessoas não são patrimônio da igreja local.
4. Capacitação para atuação em diferentes modelos ministeriais.

A complexidade permite uma abordagem plural. Quando se identifica o tempo atual como uma era de complexidades, entender-se que ela permitir à igreja uma reação tal situação. Edgar Morin, que aborda a epistemologia da complexidade, nos diz que a complexidade é um fenômeno onde se reproduz um emaranhado de ações, interações e retroações. E é desejo da humanidade livra-se desse caos. Entretanto, assegura Morin que o caos é o caminho anterior à liberdade. Os líderes das igrejas precisarão lidar com os fenômenos contraditórios e estabelecer linha de ação no ministério pastoral em que os diferentes convivam, sem exercer forças coercitivas na busca de uma unanimidade artificial. Para tal exercício Casiano aponta o seguinte caminho:
a) É preciso construir uma percepção adequada da realidade de igreja e
do ambiente social em que está inserida.
b) É preciso estabelecer poucos e nítidos objetivos e atendê-los.
c) É preciso formar grupos de trabalho onde pessoas possam trocar experiências, umas com as outras, fugindo do sombrio espaço próprio e particular.
Em síntese, a revitalização e contextualização do ministério pastoral poderá contar hoje com os seguintes indicadores:
1) Revitalização do compromisso de crucificação com Cristo, segundo Wesley, FLORISTÁN, Casiano, Teologia Practica, p. 242
2) Elaborar uma pratica ministerial voltado para pessoas e para servi-las à semelhança de Jesus-Pastor, segundo Silva.
3) Reimplantar a igreja mediante uma nova perspectiva missiológica, a partir da Missio Dei, segundo Bosch
4) Reconhecer a complexidade e o caos, e construir paradoxalmente um caminho de simplicidade, auxiliado pela percepção do coletivo, segundo Casiano.

Referências bibliográficas
BOSCH, Davi, Missão Transformadora, São Leopoldo: Sinodal, 2002.
FLORISTÁN, Casiano, Teologia Práctica, Salamanca: Ediciones Sígueme, 2002.
HARRISON, William, Sermões pelo Reverendo João Wesley, São Paulo, Imprensa Metodista, 1954.
LEONARD, Émile, O Protestantismo brasileiro, 3ª ed: São Paulo: Aste, 2002.
LIBÂNIO, João Batista, As lógicas da cidade, São Paulo: Loyola, 2001
MENDONÇA, Antônio Gouvêa & VELASQUES FILHO, Prócoro, Introdução ao Protestantismo no Brasil, São Paulo: Loyola, 1990
NELSON, Reed Elliott, Modelos organizacionais, crescimento e conflito no protestantismo brasileiro, In: Estudos de Religião, nº 17
SILVA, Geoval Jacinto, Desafios do ministério pastoral em uma sociedade em processo de globalização, In: Dialogar, p.38
Práticas pastorai na Bíblia, In Caminhando, ano VVII/2, 2002. p 164
SOUZA, Ney (org) Catolicismo em São Paulo 1554 a 2004, SãoPaulo: Paulinas, 2004.

Odemir Silva

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